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 Diante do embaralhamento dos números de camisas entre posições em diferentes esquemas táticos do futebol moderno, o simbolismo do nove segue intacto. Poucos times no mundo jogam e têm sucesso sem a presença de um homem de área que sabe se posicionar, tem faro de gol e domina os fundamentos de quem se espera ser o artilheiro.

Na Seleção Brasileira, a tradicional "camisa nove" está órfã desde que Ronaldo deixou de ser jogador decisivo que foi na Copa do Mundo de 2002. Muitos a vestiram, mas nenhum apresentou um futebol regular e convincente para ser considerado o sucessor do maior artilheiro da história das Copas.

Por isso, quando cumprir sua despedida nesta terça-feira, contra Romênia, às 21h50 (de Brasília), no Estádio do Pacaembu, Ronaldo evidenciará um vácuo na Seleção Brasileira nesta posição responsável por consagrar nomes como o de Careca, que pode ser considerado um antecessor do "Fenômeno".

"Ronaldo foi um jogador extraordinário, mas hoje não vejo ninguém como dono da camisa nove na Seleção", disse Careca durante o treino do Brasil no último domingo. O ex-atacante do São Paulo e do Napoli disputou as Copas de 1986 e 1990 com o número e se destacou pela facilidade de marcar gols e abrir espaço para infiltrações de meio-campistas.

No jogo desta terça-feira, Ronaldo provavelmente entrará no lugar de Fred, seu companheiro na Copa de 2006 que despontou como sucessor, mas sofre com instabilidade e lesões seguidas. No segundo tempo, Leandro Damião deve fazer a função e, elogiado por Mano por ter "características raras", ainda dá os primeiros passos para um dia reivindicar este posto.

"Acho que o Mano precisa dar sequência para alguém nessa posição. O Damião jogou bem em um amistoso (Escócia), mas contra a Holanda entrou o Fred", completou Careca, que citou outro atacante como o mais preparado para suceder de forma simbólica Ronaldo. "O Alexandre Pato é rápido, sabe fazer gol e está jogando muito bem no Milan. Mas se machuca muito. Precisar ver isso", analisou.

Pato surgiu em 2006 e aos poucos passou a ser considerado o futuro na posição. Convocado com regularidade por Dunga, pecou pela irregularidade e ficou fora da Copa de 2010, retardando o amadurecimento na Seleção. Com uma lesão no ombro, o atacante titular no time ideal de Mano ainda é dúvida para a Copa América.

Quando a carreira de Ronaldo começou a decair, outro nome surgiu como sucessor natural. Adriano, porém, nunca conseguiu manter o foco no desenvolvimento do futebol e, apesar de guardar as qualidades necessárias para o sucesso, deixou a carreira degringolar com problemas extra-campo. Hoje tenta o reinício no Corinthians.

Camisa nove na última Copa do Mundo, Luís Fabiano tem uma carreira extensa, é goleador incontestável, mas serviu a Seleção por um curto período e não está nos planos de Mano. Neste meio-tempo, a procura atingiu o ápice com a convocação de nomes pouco conhecidos no Brasil, como Afonso Alves e Hulk (na época sem o brilho que teve na última temporada pelo Porto).

Novo Romário?

Neste cenário, a Seleção Brasileira caminha para ter um sucessor com outro número de camisa como goleador e ídolo. Neymar arrasta o público ao estádio como Ronaldo, balança as redes de todas as maneiras, mas joga com as camisas sete ou 11 e não é um homem de área. O começo de sua história remete a outro goleador incontestável que não jogava com a camisa nove, tinha baixa estatura, mas conhecia a área como muito poucos: Romário.

O atacante foi campeão da Copa de 1994 tendo como companheiro Bebeto, outro jogador sem as características do camisa nove. Na opinião de Careca, Neymar é o tipo de jogador capaz de suprir essa carência. "É impressionante a facilidade com que ele chuta e faz gols", disse.