Pelo menos uma vez por semana, a residência oficial da Casa Civil na Península dos Ministros, área nobre de Brasília, transforma-se no QG da campanha da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. É lá que se reúne o núcleo político criado para discutir os passos da ministra rumo à Presidência da República em 2010. Em dias de sol na capital federal, Dilma costuma levar todo o seu staff de campanha para a borda da piscina, onde manda servir salgadinhos e até vinho. Mas, apesar do ambiente aprazível, o local tem sido palco de encontros tensos nos últimos dias.

A insistência do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) em manter-se como alternativa na corrida da sucessão de Lula, a aproximação dele com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e a reação destemperada da ministra no episódio do apagão acenderam o sinal de alerta no QG de Dilma.

Por isso, nos recentes encontros, foram definidas novas estratégias da campanha: intensificar o treinamento, chamado média training, sobre como se portar diante das câmeras, anunciar todo mês, até julho de 2010, um pacote de medidas populares para colar ainda mais as realizações do governo à imagem da candidata e transformá-la, em dezembro, na grande estrela da propaganda partidária do PT. A meta estabelecida foi escrita num quadro-negro com giz de cera branco à vista de todos: liquidar a fatura no primeiro turno.

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FORA DE TOM Nas reuniões na casa da ministra (ao lado), equipe pede a Dilma mais calma nas entrevistas

 

“Minha filha.
Uma coisa é blecaute, outra é racionamento”
Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil

“Para tanto, precisamos superar a marca dos 23% nas pesquisas até o primeiro bimestre de 2010”, disse um membro do staff de Dilma, num dos últimos encontros. As reuniões na casa da ministra são feitas em duas salas amplas. Uma delas, que dá acesso à piscina, é a preferida. Fazem parte da equipe o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, o exministro da Fazenda, Antônio Palocci, o ministro Franklin Martins (Comunicação Social), o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o marqueteiro João Santana. Os mais assíduos são Palocci, Pimentel, Franklin e Gilberto. Mas, diante dos últimos acontecimentos, Berzoini e o secretário-geral da Presidência, ministro Luiz Dulci, também têm participado com mais frequência. Cada integrante do núcleo político tem uma tarefa.

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COMO LULA
Staff quer que Dilma seja
menos durona e mais paz e amor

O marqueteiro João Santana tem orientado a ministra a manter a calma diante das situações de pressão. Integrada à equipe de Santana, Olga Curado, consultora em comunicação desde o ano 2000 na gestão de imagem institucional e comunicação interpessoal e que tem prestado serviço de treinamento de porta-vozes para o governo, foi contratada especialmente para transformar a ministra, normalmente dona de temperamento explosivo, em “Dilminha Paz e Amor”. Olga usa o sistema, técnica oriental utilizada em lutas marciais adaptada para a comunicação. “O objetivo é reconduzir o movimento de maneira que não produza o conflito”, explicou Olga.

Ela nega, no entanto, que faça parte do time de Dilma. Carvalho é quem tem agendado as reuniões com os partidos aliados e levado os conselhos do presidente Lula. Foi ele quem comunicou que, a partir de agora, Dilma estará mais vinculada às ações do governo, assim como já aconteceu com o présal, o PAC e o meio-ambiente. Conforme apurou ISTOÉ, entre as medidas estão a liberação de outro megalote de restituição do Imposto de Renda, o reajuste real do valor das aposentadorias e pensões superiores ao salário mínimo, em janeiro, e um novo aumento, até março, do Bolsa Família. Ainda está prevista a entrega de mais de 800 mil casas até julho de 2010 do programa Minha Casa, Minha Vida. Berzoini é quem opera para oficializar o pré-acordo do PT com o PMDB. Já Fernando Pimentel encarna o papel de principal articulador das alianças.

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Mas quem tem ocupado, nos bastidores, papel de destaque nessa fase é o ex-ministro Antônio Palocci. Hoje, ele cumpre a função de José Dirceu na campanha de Lula em 2002. Dá conselhos em todas as áreas. Também tem comparecido aos jantares na casa da ministra com integrantes de partidos aliados. Apesar da montagem da equipe de conselheiros, segundo um assessor, a ministra tem atuação própria. “Ela encomenda estudos, pesquisas e até discute estratégia de comunicação”, contou. A preocupação dos aliados é saber como a ministra vai lidar com a necessidade de uma maior interferência externa na sua própria campanha.

Pela personalidade da candidata, há quem aposte em um aumento da tensão no QG de Dilma até o início oficial da corrida eleitoral.

Colaborou Claudio Dantas Sequeira


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