Em 2003, nenhum brasileiro vai passar fome e todas as crianças vão entrar pra escola. Cada homem vai ter direito a uma Luana Piovani ou a uma Julia Roberts. As rádios vão tocar João Gilberto e Chet Baker dia e noite. O Corinthians vai ganhar o Rio–São Paulo, a Copa Brasil, a Libertadores, o Brasileirão e a Copa Toyota. Rommané-Conti será o vinho de todos os jantares, todas as mulheres vão ter direito a um Rodrigo Santoro ou um Jack Nicholson, o dólar vai valer um real. Coxinhas  do Frangó, empadinhas do Salete, bolinhos de aipim com camarão do Bracarense e chope do Bar do Léo serão distribuídos nas ruas todos os sábados de manhã.

Os juros vão cair pra 0,50% ao mês. Todas as grandes contas de propaganda serão transferidas para agências brasileiras, alguém vai me dar um óleo do David Hockney de presente, a inflação vai ser zero. Cidade de Deus vai ganhar o Oscar. Todos os finais de semana serão de sol, a segunda-feira de manhã será substituída por duas sextas à tarde. O mercado de trabalho vai crescer uma barbaridade, seu filho vai entrar na faculdade, ninguém mais vai precisar de carro blindado ou seguranças.

O Bush vai ceder o lugar pro Jimmy Carter, o Tietê vai ser despoluído,
o Tom Jobim vai ressuscitar e compor novas canções, o Boni vai voltar pra Globo. As construtoras paulistas só vão construir prédios projetados por Paulo Mendes da Rocha, Aurelio Martinez Flores, Renzo Pianno e
Philip Johnson. Em Salvador, no Rio, Fortaleza e Florianópolis, todos
os carros serão conversíveis. A seleção olímpica vai convocar Kléber,
Gil, Kaká, Diego e Robinho. A dívida externa será perdoada, o André Midani vai voltar pro disco, mitologia grega e física quântica serão ensinadas nas escolas.

O Brasil vai emprestar dinheiro pro FMI. Ninguém mais vai jogar lixo
na rua, ninguém de telemarketing vai ligar pra sua casa, o horário eleitoral gratuito será eliminado. Todo mundo vai poder morar uns
tempos no Rio de Janeiro, as companhias aéreas vão triplicar os programas de milhagem. Cientistas descobrirão a cura do câncer, da
Aids e da calvície. O Palmeiras vai voltar pra primeira sem tapetão, o Botafogo também. Os engarrafamentos vão acabar, a internet vai dar dinheiro. Uma novela inédita do Dias Gomes será encontrada,
produzida e levada ao ar. Cubatão se transformará em Fernando de Noronha, todos os bueiros do País serão desentupidos, todas as
mulheres ficarão magras sem ter que fazer regime.

As reuniões de trabalho serão sempre pra decidir e nunca só pra
reunir. Henri Salvador e Roberto Murolo virão cantar no Brasil, o dinheiro dos impostos se transformará em saúde e educação, ninguém mais vai usar telefone celular em restaurante, teatro e cinema. Os bailes de Carnaval vão voltar, a dengue será erradicada, a Voz do Brasil tirada
do ar. O Guga vai ganhar tudo de novo, o caldo de sururu fará
parte da cesta básica.

Além do Programa Fome Zero, o País implantará o Projeto Fila Zero. Não vai ter nenhum apagão, o salário mínimo vai triplicar, ninguém mais vai passar no sinal vermelho, todos os peitos vão ficar duros sem silicone e todos os paus sem Viagra. A chatice do politicamente correto e a má educação do politicamente incorreto serão substituídas pelo politicamente saudável. Deus vai aparecer e se declarar oficialmente brasileiro e eu vou parar de falar besteiras. Em 2003, o futuro vai ser no presente e a coisa finalmente vai dar certo. Sei que parece sonho ou utopia, mas não custa ter esperança.

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