Na definição do filósofo grego Aristóteles, a esperança é uma virtude motivadora, o sentimento que faz as pessoas acreditarem num futuro mais feliz. Embalados pela eleição de um novo presidente e pela expectativa de um ciclo de mudanças que afetará diferentes áreas, como a economia e a educação, muitos vêem 2003 como um símbolo de mudança. De acordo com uma pesquisa realizada pelo instituto FGV-Opinião, ligado à Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, a esmagadora maioria dos brasileiros acredita que o ano que vem será melhor. É como se os brasileiros estivessem em lua-de-mel com o ano que chega, o governo novo e as prometidas mudanças.

A figura do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, aparece identificada como um símbolo de esperança, já que, pela primeira vez, o eleitor votou em alguém igual a si mesmo. Em uma comparação entre Fernando Henrique Cardoso e Lula, 85% dos 2.988 entrevistados disseram acreditar que o governo do petista será melhor, 6% afirmaram que será a mesma coisa e 9% previram que será pior. Questionados sobre áreas sociais como educação e saúde, 84% apostam que a situação vai melhorar. E até mesmo quando o assunto é espinhoso, a confiança impera. Cerca de 81% dos entrevistados crêem na diminuição do desemprego e 73% acreditam no controle da inflação. Alberto Carlos de Almeida, pesquisador do FGV-Opinião, explica que mesmo quem votou em Serra se dobrou e agora faz votos de que tudo dê certo. “É como um homem que trocou a esposa antiga por uma nova”, diz.

Quando a vida pessoal também dá uma guinada, a empolgação é ainda maior. Famosos como o ator Edson Celulari e a apresentadora Lorena Calábria vivem a euforia de entrar em 2003 “grávidos”. A mulher do galã, Cláudia Raia, espera para janeiro a chegada de sua primeira filha. Já Lorena, grávida de seis meses do diretor de tevê Maurício Arruda, prepara-se para passar o Carnaval abraçando as filhas gêmeas. “Um filho, por si só, é um signo de esperança”, afirma Celulari. “Mas ele chegar ao mundo no ano em que o povo assume o poder torna 2003 ainda mais especial.”

O certo é que ninguém fica indiferente à mudança. Muitos clamam por ela, outros sentem calafrios quando ouvem falar do assunto. Por quê? “É muito subjetivo, mas, em geral, quem busca mudança é quem tem menos a perder, quem tem um longo caminho pela frente. Os mais ricos ou mais velhos têm mais dificuldades para aceitar alterações drásticas de vida”, explica Ari Rehfeld, supervisor da clínica psicológica da PUC-SP.

O teólogo Fernando Altemeyer, também da PUC-SP, concorda com o psicólogo e acrescenta que quem tem o poder, em geral teme alterações. Mas, mesmo num momento de euforia como esses, é necessário manter a calma e agir com cautela. “É preciso ter discernimento para se mudar o que precisa e não alterar aquilo que está bom”, avisa. Para ele, é preciso serenidade para não se decepcionar se as propaladas mudanças demorarem mais do que um réveillon para acontecer. O maior desafio é trocar a esperança e a empolgação iniciais pela confiança.