No final de ano, a maioria das pessoas começa a traçar seus planos para descansar. O programa e o estilo variam. Alguns preferem escalar montanhas, outros acham no balanço da rede a paz de espírito desejada. Nos dois casos, porém, há uma série de precauções indispensáveis para proteger os viajantes de alguns dissabores que podem antecipar o fim da viagem. Dependendo da circunstância e do local, até incidentes comuns, como uma bolha no pé, encerram a temporada. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o engenheiro Ricardo Ortiz, 35 anos, de Campinas, interior de São Paulo. Viajante tarimbado, ele está acostumado a fazer longas caminhadas em lugares exóticos do planeta. Mas, há alguns anos, quase ficou fora de um passeio no Nepal por culpa de uma bota nova. “Seriam 21 dias de trilha nas montanhas, mas o calçado não estava suficientemente amaciado e provocou uma bolha no segundo dia! “Aguentei muita dor e precisei parar três vezes por dia para trocar curativos e furar a bolha até cicatrizar”, lembra. Essa lição – jamais usar botas novas em caminhadas longas – ele aprendeu. Há três anos, porém, passou por outro susto. “Na volta de uma visita aos templos de Kajurahl, na Índia, fui a um restaurante comer um prato de vegetais bem temperados”, lembra. No mesmo dia, sentiu os efeitos. “Fiquei dois dias com um desarranjo forte. Precisei chamar o médico e tomar antibióticos”, conta. O que ele teve foi a famosa diarréia dos viajantes, problema que afeta cerca de 30% dos turistas internacionais, de acordo com estatísticas portuguesas.

Esses e outros acontecimentos inesperados nas férias estão na mira de médicos preocupados em diminuir acidentes com turistas e pessoas em trânsito pelo País. No mês passado, eles se reuniram várias vezes na Associação Paulista de Medicina (APM) para discutir a prevenção e a abordagem correta de problemas desse tipo. “O intuito é divulgar as recomendações certas para que a pessoa que vai viajar evite doenças e outros incidentes”, explica o médico do trabalho Luiz Hoppe, da APM. Quando o destino é um local sem condições de saneamento, por exemplo, o conselho é ter cuidado dobrado com a água, para evitar infecções. Se não der para tomar apenas bebidas industrializadas, a sugestão é que se leve um frasco de cloro para pingar algumas gotas e higienizar a água antes de beber. Essas e outras dicas podem ser obtidas em clínicas e em serviços como o Núcleo dos Viajantes do Hospital Emílio Ribas e o Ambulatório dos Viajantes do Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo. Nesses locais ainda é possível tomar gratuitamente vacinas indicadas para áreas de risco (antitetânica e febre amarela, entre outras).

Cuidados contra picadas de insetos e como evitar excesso de sol ou frio também fazem parte das recomendações dos especialistas. O médico Eduardo Vinhaes, da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, por exemplo, que já viajou pelos pontos mais altos e frios do planeta acompanhando expedições ou na condição de guia, costuma orientar atletas e também pessoas comuns. Recentemente, ele debruçou-se sobre os livros para estudar como controlar as reações à altitude do casal de alpinistas Paulo e Helena Coelho, de São Paulo. “A partir de 2,6 mil metros a pessoa tem sintomas de falta de adaptação, como perda de apetite e irritação. Por isso deve criar condições para o organismo se acostumar, como beber bastante água e levar remédio contra a dor de cabeça”, explica Vinhaes, que sugeriu à alpinista e ao marido que voltassem alguns metros na escalada para dormir em altitude mais baixa. “É mais seguro praticar esse tipo de atividade com orientação médica”, concorda Helena, 48 anos, que se prepara durante o ano com sessões de ioga, remo, corrida, musculação e muita leitura sobre saúde para encarar as férias atléticas. É uma sábia medida, pois muita gente fica no caminho porque ultrapassou os limites do corpo. A empresária Alysson Costa, da agência de turismo Econautas, de São Paulo, diz que faz parte do dia-a-dia atender candidatos a ecoturistas sem preparo físico para passeios que exijam um pouco mais de esforço. Para eles, Alysson aconselha trilhas mais brandas. Uma dica é checar se a agência possui um esquema de acompanhamento para quem precisa parar e descansar no meio do caminho. “Faz parte dos cuidados com a saúde”, alerta a empresária.

Menos jet lag
Pouca gente escapa do jet lag, uma alteração do ciclo de sono e vigília que costuma surgir em viagens aéreas mais longas, por causa das diferenças de horário entre os países. Os sintomas mais frequentes são sonolência diurna, insônia noturna, perda de concentração, irritabilidade e distúrbios gastrointestinais. Se o mal-estar for intenso, o médico Eduardo Vinhaes, da Universidade de São Paulo, aconselha evitar atividades que exijam prontidão, como dirigir carros. Não há tratamentos para eliminar o jet lag, só para amenizar o desconforto. Um deles é usar remédios para dormir, desde que receitados pelo médico. Outro recurso é se prevenir para diminuir a intensidade do problema. De acordo com Vinhaes, seguir uma dieta por três dias antes de viajar ajuda o corpo a se preparar para a mudança. “Procure beber muita água e alternar o café da manhã e almoço ricos em proteínas (carnes, peixes e queijos) com jantares fartos em vegetais e carboidratos (massas e pães)”, orienta.