Os italianos trocam 1.936 liras por um euro; os portugueses, 200,48 escudos; os gregos, 340 dracmas; os espanhóis, 166 pesetas… Quando tudo parecia propício a criar muita confusão no cotidiano dos europeus com a conversão das moedas locais ao euro, o próprio dia-a-dia da primeira semana de circulação da nova moeda de 12 países europeus contrariou as expectativas de caos. Há filas atrás do dinheiro, comerciantes que se aproveitam da conversão para ganhar um pouco mais, calculadora na mão de todo mundo. Mas, diante da revolução que promoveu no mundo financeiro, o euro vai bem, obrigado, segundo as autoridades da Comissão Européia. A confusão existe, é claro, especialmente onde as conversões exigem contas mais complicadas, como na Itália, onde a impressão inicial da conversão pode levar o consumidor a cometer o engano de achar tudo ‘muito barato’. É um risco que se coloca também para gregos, portugueses e espanhóis. Mas nada que impeça a Europa de festejar a mudança com otimismo. Nesse sentido, os europeus têm o aval do canadense Robert Mundell, Prêmio Nobel de Economia em 1999. Em entrevista ao jornal econômico italiano Il Sole 24 Ore, Mundell previu que o euro se fortalecerá progressivamente em 2002 e atingirá a paridade com o dólar. Ele diz que o euro está sendo valorizado por baixo atualmente, mas se fortalecerá à medida que se aproximar o fim do processo de transição, em março.

Na poderosa Alemanha, o euro foi recebido no varejo com reduções de preços, “as maiores de todos os tempos”, como anunciou o grupo de supermercados Aldi um dia depois da estréia da moeda. Em anúncios de páginas inteiras e em folhetos, a rede de supermercados anuncia reduções de preços que podem superar até os 3%, um pequeno contraponto ao temor de uma entre quatro pessoas, segundo uma pesquisa recente, de que a chegada das moedas e das notas em euro provocasse um sub-reptício aumento nos preços, via arredondamento para cima das pequenas contas.

O temor dos consumidores não é indevido. Na mesma Alemanha, as tarifas do metrô de Frankfurt foram mais do que arredondadas para cima, assim como ocorreu em muitos restaurantes. “Fora alguns incidentes pontuais, não se pode falar numa tendência geral de aumento de preços”, disse Ernst Welteke, presidente do Bundesbank, o banco central da Alemanha.

Preços – O que não dá para imaginar – ainda que os europeus imaginem – é que o euro promoverá um alinhamento de preços nos 12 países. Diferentes impostos e variação no custo de vida provocam grandes variações de preços. O jornal francês Le Monde fez comparações entre Paris, Frankfurt, Bruxelas, Madri e Roma. E constatou que um corte de cabelo masculino custa 6,25 euros em Schwedt, na antiga República Democrática Alemã, perto da fronteira polonesa, e 15 euros em um bairro chique de Bruxelas. Um produto maciçamente consumido num país terá melhor preço que em outro, caso típico da cerveja da Bavária, que custa duas vezes menos em Berlim, onde se bebe cerveja como água, do que em Lyon, onde a distribuição é modesta. A pesquisa de preços realizada nas cinco cidades européias conclui que nos produtos mais comuns há grande variação, como havia antes do euro, enquanto nos produtos internacionais a variação é pequena, como o PlayStation da Sony, que custa de 299 euros na Alemanha a 321,99 na Bélgica.

Essas variações não vão desaparecer porque cada país tem seus custos e seus salários. O salário mínimo por hora é de apenas 2,93 euros na Espanha, mas chega a 6,18 euros na Bélgica, por exemplo. O que os analistas não hesitam em prever é que crescerá substancialmente o comércio online na Europa, especialmente pela facilidade de comparação de preços. A Apple, por exemplo, já vende no seu site o iMac por 999 euros em toda a Europa, enquanto os fabricantes de automóveis se desdobram para tentar impedir os consumidores de comprar seu veículo pelo melhor preço na Europa. Impossível: a diferença de preços do Peugeot 206 XR entre a Espanha e a Alemanha supera 20%. A viagem vale a pena.