Após 30 anos na condição de maior empresa aérea brasileira na aviação doméstica, a Varig perdeu para a TAM, em 2001, a liderança do mercado. A nova líder obteve 30,71% de participação no transporte de passageiros em 2001, contra 28,72% da rival, segundo números apurados pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) e pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) obtidos com exclusividade por ISTOÉ.

O salto da TAM à liderança do mercado nacional ocorreu num ano difícil para a aviação comercial do mundo todo (principalmente após 11 de setembro) e em um momento especialmente complicado para a empresa. Em julho, a queda de um helicóptero matou o fundador e principal executivo da companhia, o comandante Rolim Adolfo Amaro. E o dado torna-se ainda mais surpreendente quando se leva em conta que a empresa não embarcou na guerra de tarifas vivida no último trimestre.

Os números mostram que o desempenho da TAM foi superior ao da Varig durante todo o ano. Nem o fato de ter conseguido uma ocupação 7% superior nas suas aeronaves em relação a 2000 permitiu uma recuperação da Varig, que já teve a hegemonia do transporte doméstico brasileiro. Outro ponto de vantagem para a TAM é não ter o elevado endividamento da concorrente, que ultrapassa US$ 800 milhões só em aquisição de aviões. Ao INSS e à Infraero, a companhia deve R$ 211 milhões. A dívida total da TAM é de R$ 1,5 bilhão (aproximadamente US$ 600 milhões). Atrás das líderes, no ranking doméstico, estão a Vasp, com 14,35% de participação, a Riosul, com 8,78%, e a Gol, com 4,74%.

O diretor comercial da TAM, Wagner Ferreira, e o presidente, Daniel Martin, apostam que a empresa continuará crescendo em 2002, com a chegada de 17 novos aviões. “Essa posição é uma resposta dos passageiros às iniciativas da companhia para atendê-los nas mais diversas cidades brasileiras”, disse o diretor da empresa, acrescentando que haverá também novos investimentos para ampliar o número de vôos internacionais. O presidente da Varig, Ozires Silva, afirma que confia na recuperação da liderança, mas reconhece que ela necessita de um aporte financeiro.

A medida utilizada para medir o desempenho das companhias aéreas é uma fórmula que leva em consideração o número de passageiros transportados e os quilômetros voados. A TAM passou de um índice de 6,6 milhões em 2000 para 8,14 milhões no ano passado. Nesse índice, a Varig permaneceu estagnada em 7,6 milhões. O avanço da TAM nos últimos três anos foi avassalador. Em 1998, o placar era de 6,9 milhões para a Varig e apenas de 1,5 milhão para a TAM. O índice é adotado internacionalmente para avaliar a performance das empresas.

“Os resultados de 2001 são supreendentes – mostram não só o crescimento efetivo da TAM –, mas também um enfraquecimento da Varig, “que pode se recuperar se tiver um aporte financeiro na sua atual reformulação”, disse o consultor aeronáutico Mauro Gandra, ex-presidente do Snea e do DAC. A frota da TAM, de 84 aviões, já é superior à da concorrente, com 77, muitas de porte superior, o que significa gastos maiores para manutenção. O endividamento da Varig fez com que a empresa devolvesse 18 aeronaves no segundo semestre do ano passado.

Refresco – No mercado internacional, a Varig continua líder, enquanto a TAM cresce em ritmo gradual, ainda distante de sua concorrente. Com a desistência da Vasp de levar brasileiros ao Exterior e o colapso da Transbrasil, que não levanta um vôo sequer desde o mês passado, apenas as duas companhias dividem o segmento.

As dificuldades da Varig são reconhecidas por seu presidente, Ozires Silva, que tem feito articulações políticas e no mercado financeiro para recuperar a companhia. Um aporte financeiro da GE, da qual é sócia na manutenção de aeronaves, ainda não foi confirmado. Em dezembro, a Varig fez um acordo com a credora Boeing e reduziu sua dívida para US$ 830 milhões. Ozires reclama por menos ingerência do governo e por uma legislação mais aberta, nos moldes internacionais.

Para o curto prazo, TAM e Varig esperam um bom refresco no caixa. Há poucos dias, o Supremo Tribunal Federal julgou procedente a ação de inconstitucionalidade contra a cobrança de ICMS sobre passageiros e carga, reduzindo a carga tributária de 35% para 23%. “Este é um verdadeiro alívio para o setor, que vai estimular o crescimento da TAM e a recuperação da Varig, além de beneficiar as demais empresas”, diz um relatório reservado de uma consultoria aeronáutica que considera fundamental a reformulação do setor e a redução da oferta de vôos a partir da segunda quinzena de fevereiro, quando a demanda dos vôos domésticos deverá começar a se reduzir.