O experiente ator, diretor de tevê e teatro e dramaturgo carioca Miguel Falabella, 51 anos, estréia como cineasta no filme Polaróides urbanas, que chega aos cinemas na sexta-feira 29. Adaptação de sua peça Como encher um biquíni selvagem, a comédia dramática trata da solidão nas grandes cidades e ficou mais de sete anos em cartaz. Para Falabella, a produção estrelada por Marília Pêra, Arlete Salles e Marcos Caruso demorou muito tempo para vir à luz: “Polaróides sou eu 15 anos atrás.” Um desafio à ansiedade do artista, que acha pertinentes as comparações com o diretor espanhol Pedro Almodóvar. Ele diz, no entanto, que precisa filmar muito mais: “Se eu estivesse já no meu quinto filme, estaria bombando.” Leia abaixo a entrevista que ele concedeu à ISTOÉ:

ISTOÉ – Como foi estrear como cineasta?
Miguel Falabella – Polaróides é um exercício de estilo. Quero saber se tenho uma linguagem cinematográfica própria. Implico muito com televisão filmada. Me angustia muito ir ao cinema e ver um enquadramento engessado da televisão.

ISTOÉ – E o que achou?
Falabella – Eu fiquei satisfeito de ver que o filme tem uma elegância de câmera. Ele é bonito, a direção de arte também. Não tem enquadramento de tevê nem se parece com uma peça filmada.

ISTOÉ – O que muda com o cinema?
Falabella – É totalmente diferente de tudo que já CINEMA fiz no teatro e na tevê. Ontem (segunda- feira 18) eu assisti ao filme e pensei: mas pelo amor de Deus, esse é o Miguel de 15 anos atrás, eu já sou outra pessoa! Eu já olho o mundo de outra maneira.

ISTOÉ – O que mudou hoje?
Falabella – Eu estou com 51 anos, num outro processo reflexivo. Antes eu era muito mais vedete. Hoje em dia eu estou mais maduro, as coisas vão mudando muito. Se eu pudesse, faria um filme por ano.

ISTOÉ – Como nasceu a peça que deu origem ao filme?
Falabella – A primeira personagem que surgiu foi a dra. Paula. Eu estava no auge da psicanálise, com ódio da minha psicanalista. Nessa relação de amor e ódio, eu estava no momento do ódio. Aí os outros personagens vieram.

ISTOÉ – O sr. não fez alterações no roteiro?
Falabella – Eu precisei fazer a transposição de um monólogo para um filme com diversos atores. Acho que ficou muito bom. Mas, se fosse hoje, certamente o roteiro seria outro totalmente diferente.

ISTOÉ – Já tem algum novo projeto?
Falabella – Estou escrevendo Um barco rumo à China, sobre um travesti e seu companheiro que criam duas crianças.

ISTOÉ – Como vê o movimento gay no Brasil?
Falabella – Eu respeito muito quem faz militância, embora eu não faça. Acho que o Brasil não está preparado para isso. E as pessoas gostam da fantasia, devem achar que os artistas fazem sexo como uns doidos. E se você tira os véus fica tudo muito chato.

ISTOÉ – A comparação com Pedro Almodóvar o envaidece?
Falabella – Nós somos da mesma geração, temos influências semelhantes.

ISTOÉ – Por que o sr. não dirigiu A partilha?
Falabella – Eu queria ter feito o filme, mas já tinha dado para o Daniel Filho. Essa peça é uma sonata de outono que o Daniel transformou numa peça jovem. Eu teria feito diferente.