02/06/2011 - 12:28
A reunião entre o secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Jurandir Fernandes, e os ferroviários em greve terminou sem acordo. Fernandes solicitou nesta quinta-feira (2) que os grevistas antecipassem a assembleia da categoria que pode encerrar a paralisação. Os ferroviários, porém, mantiveram a reunião para as 18h.
Com isso, os trens metropolitanos da Grande São Paulo devem permanecer parados até, no mínimo, as 18h. A paralisação do serviço atinge as 89 estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e atinge cerca de 2,4 milhões de passageiros.
Os ferroviários estão em greve desde essa quarta. Eles reivindicam um aumento real de 5%. O governo paulista já ofereceu um aumento real de 1,5% para a categoria.
Desde às 11h, representantes dos ferroviários e da CPTM participam de uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Na reunião, os trabalhadores e a empresa podem chegar a um acordo sobre um reajuste salarial. Caso isso ocorra, os termos do acordo terão de ser aprovados na assembleia da categoria para que os trabalhadores voltem ao serviço.
Transtorno
Nenhuma das 89 estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) foi aberta no início da manhã desta quinta-feira (2). Em nota divulgada à imprensa pouco depois das 4h da madrugada, a empresa informou que não houve número de funcionários suficiente para iniciar a operação de suas seis linhas no horário costumeiro (4h) e que, para preservar a segurança dos usuários e do patrimônio público, não haverá acesso às estações. Ao todo, 2,4 milhões de usuários devem ser prejudicados.
"Recomendamos que os usuários não se dirijam às estações, porque está tudo fechado", salientou a assessoria de imprensa da CPTM. E, como não há trens em operação, também não funcionará o sistema Paese, de ônibus, que na quarta-feira (1º) atendeu à população em razão da paralisação parcial que ocorreu. Também não existe nenhum outro esquema de urgência para suprir a deficiência no transporte. Na nota, a empresa diz ainda que tentou "até o último momento", durante a madrugada, "sensibilizar os sindicatos da importância de manter as linhas operando nesta quinta", mas não houve acordo.
No começo da noite de quarta, o presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo, Eluiz Alves de Matos, informou que as linhas 7 (Luz-Jundiaí) e 10 (Luz-Rio Grande da Serra) também adeririam à greve a partir da 0h desta quinta, unindo-se ao movimento integrado, desde a 0h da quarta, pelas outras quatro linhas: 8-Diamante (Júlio Prestes-Itapevi), 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú), 11-Coral (Luz-Estudantes) e 12-Safira (Brás-Calmon Viana).
Ônibus
No Grande ABC, motoristas e cobradores de ônibus de empresas particulares decidiram manter a greve iniciada nessa quarta. A paralisação afeta o transporte municipal e intermunicipal em Santo André, São Bernardo do Campo, Mauá, Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires e São Caetano do Sul e Diadema.
A assessoria da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) informou que conseguiu ontem liminar no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) que obriga a circulação de pelo menos 80% da frota de 850 ônibus, em 130 linhas, que atendem os passageiros em toda a região. A multa diária para o descumprimento da decisão é de R$ 200 mil. Até as 6h30, das 19 empresas, três operavam normalmente, três parcialmente e as 13 restantes estavam totalmente paralisadas.
Os trabalhadores querem 15% de aumento nos salários, mas as companhias oferecem 8%. O sindicato que representa os funcionários afirma que as empresas não apresentaram nova proposta. Nesta quinta vai ser realizada uma audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).
Metrô
O segundo dia de greve dos funcionários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) provocou a superlotação do complexo de Itaquera, na zona leste de São Paulo, que integra as linhas ferroviárias ao Metrô e ao terminal de ônibus. Com o acesso fechado à linha da CPTM, houve grande procura por bilhetes do Metrô, causando longas filas nos guichês e na passagem pelas catracas. "Eu nunca vi nada parecido. A fila chegou até perto do shopping (Itaquera)", disse Júlio José, 21 anos, funcionário de limpeza do terminal.
Desde as primeiras horas da manhã, o movimento foi intenso na estação de Itaquera. As filas permaneceram longas até por volta das 9h30. Houve quem desistisse de enfrentar as filas, como foi o caso de um grupo de atendentes de telemarketing, que trabalham em uma empresa no bairro da Lapa. Elas começaram a chegar à estação do Metrô por volta das 6h, mas acabaram optando por esperar um ônibus fretado que a empresa, no dia anterior, havia oferecido aos funcionários.
Entretanto, pouco antes das 9h, veio a notícia de que o ônibus fretado não estaria disponível, e que elas teriam que enfrentar o Metrô lotado. "Eu tinha que entrar às 9h30, mas vou chegar bem atrasada. Ainda mais porque tenho que pegar um ônibus até a Lapa, depois que descer do Metrô", disse Letícia Lima, 24 anos, moradora de Itaquera.
Jorge Silva, 46 anos, divertiu quem aguardava na fila com suas imitações do Seu Madruga, famoso personagem do programa de TV mexicano Chaves. Vestido a caráter, Silva jogava seu chapéu no chão e repetia frases e trejeitos do personagem, levando os usuários às gargalhadas. "O povo merece uma alegria, depois de ficar nessa fila", disse Silva, que mora em Itaquera e pretendia ir até o centro.
Comerciantes comemoram
Apesar dos grandes transtornos enfrentados pelos usuários da estação, os comerciantes que trabalham em Itaquera celebraram o aumento nas vendas. Dono de uma banca de salgados e sucos na estação, Luis Carlos Gomes afirma que o movimento foi mais intenso entre 6h30 e 9h. "Hoje, eles tiveram um motivo a mais para comprar, porque tiveram que ficar esperando as filas diminuírem. Para mim, foi ótimo. Aumentou muito o fluxo", disse.
Gerente de uma loja de confecção, Wladimir Souza Barros estima que houve um aumento de 70% nas vendas nesta manhã. Segundo ele, o motivo é que a loja atrai, principalmente, clientes de ocasião, que se interessam pelos produtos ao passar em frente ao estabelecimento. "O pessoal hoje não teve para onde correr, e aí entrou na loja e comprou", comemora.
Zenaide Maria da Silva, 34 anos, trabalha em uma cabine de venda de recargas para celular e cartões telefônicos. Ela disse que atendeu o dobro de pessoas nesta manhã – cerca de 500 pessoas no horário das 5h40 às 9h, pelos cálculos da vendedora. A maioria dos clientes, segundo Zenaide, tentava telefonar para seus chefes e explicar os motivos do atraso.
A vendedora afirmou ainda que teve alguns dos cartões telefônicos esgotados e faltou, até mesmo, dinheiro para o troco. "Tive que pegar do meu bolso para dar troco às pessoas", disse. Uma das clientes de Zenaide foi Silvia Maria de Lima Antonio, 30 anos, atendente de uma loja no Brás. Ela afirmou que só comprou crédito porque tinha que avisar seus chefes. "Ia esperar o dia 5 para colocar crédito, mas tive que gastar o dinheiro que estava guardado. E ainda por cima tive que colocar R$ 5 a mais, porque a moça não tinha troco", disse