Pronto, 2001 acabou. Aninho danado esse. Começou mal, passou para o segundo tempo com mais problemas ainda. Fizemos substituições e nada. Lá por setembro a coisa engrossou, achamos que o mundo ia acabar. Escapamos por pouco. Conseguimos a vaga na Copa e o mundo conseguiu uma prorrogação. Astrólogos e tarólogos do mundo inteiro já sabiam que isso ia acontecer. Marte estava atrapalhando o trânsito cósmico, provocando todo esse auê. Só Bush não sabia. Os terroristas do al-Qaeda passaram a saber quando entraram no avião. Aí já era tarde. Na numerologia também a coisa estava prevista. Dizem que é a combinação dos números que formam 2001. Dois mais um que dá três, com dois zeros no meio… Sei lá, parece que isso não é bom. Já de 2002 estão falando bem. É um ano espelhado, o que neutraliza a ação nefasta dos dois zeros no meio, entenderam? Deve ser um ano politicamente correto, um ano família e, sobretudo, um ano par, dois pra lá, dois pra cá. Se vamos dançar, que seja ao ritmo do bolero.

Eu acredito em tudo isso. Senão, vou acreditar em quê? Vamos encarar janeiro com energia e acreditando no futuro. Sei que é difícil achar alguma energia sobrando. Estamos racionando esperança e energia. Se chover muito – e vai –, enchemos os reservatórios, mas alagamos tudo. Problemas. Se chover pouco, não alagamos nada, aproveitamos o verão, mas somos obrigados a ligar o ar-condicionado, ato totalmente antipatriótico. Mais problemas. Mas não há de ser isso que vai nos abater, tirar nosso espírito esportivo e nossa confiança no futuro. Vai ser um ano de Copa do Mundo, gente! Pra frente, Brasil! É penta!… Bem que a gente tenta, mas é difícil de acreditar. Se convocassem o time do Atlético Paranaense, talvez funcionasse. Mas com a Seleção que temos… Aliás, que Seleção que temos? A vantagem é que a Copa vai ser no Japão. Jogando de cabeça pra baixo pode ser que o time acerte. O tempo também ajuda. Até lá Ronaldinho já se recuperou, Romário já descansou, Felipão já acordou e Ricardo Teixeira já dançou.

Além disso, não podemos esquecer que vai ser um ano eleitoral. Não sei se isso é bom, mas pelo menos é animado. Já pensaram? Roseana Sarney e Lula, a grande disputa. De um lado o sorriso simpático e sedutor. Do outro a experiência e a perseverança. Preocupados com a imagem, Lula já disse que está disposto a raspar a barba e Roseana a raspar o bigode do pai. Aliás, este debate vai reacender a discussão dos papéis do homem e da mulher na sociedade. Como tudo que envolve homem e mulher tem sacanagem no meio, promete. Outro candidato que não falta nunca é o Enéas, o nosso Bin Laden eleitoral. Ouvir o Enéas gritando dá mais medo que ouvir o Bin Laden falando baixinho. O PSDB também não ficará fora desta festa. Afinal, são os donos da bola e sem bola não tem jogo. Só falta saber se vai prevalecer a careca e as olheiras do Serra ou o charme juvenil de bom moço e bom neto do Aécio. FHC no fundo queria que o dr. Albieri criasse um clone seu para poder disputar as eleições sem problemas com a lei eleitoral. Clone pode se reeleger.

No mais, vamos ser invadidos por uma onda de exposição de privacidade na televisão. Da Casa dos artistas II ao Big Brother da Globo, passando pela casa-da-mãe-joana que vai ser esta eleição, vamos assistir cenas de tédio explícito, extremamente nocivos à formação moral de nossos filhos. Fazer o quê? Vamos passar este ano como passamos uma camisa amassada. Não sei o que isso significa, mas a imagem é boa. Passar bem!