O Brasil vai ganhar o primeiro depósito definitivo de rejeitos nucleares produzidos pelas usinas Angra I e II. E ele será erguido em Angra dos Reis, balneário da elite brasileira, dona de ilhas e residências suntuosas na região. Nele ficará, durante 300 anos, todo o tipo de material contaminado pela radiação nuclear. O combustível usado pelas usinas, que pode afetar de modo mais grave o meio ambiente, continuará sendo mantido em pequenas piscinas na própria Central Nuclear Álvaro Alberto, em Angra. Todo o lixo nuclear produzido por Angra I, desde 1982, e Angra II, desde o ano passado, está armazenado na central, em caráter provisório, em seis mil tambores metálicos e de concreto, alguns sem condições de garantir segurança por tempo indeterminado. São ao todo 2.100 toneladas, o maior lixão nuclear da América Latina.

O futuro depósito também será protegido por concreto e cercado de metal, para impedir que a umidade provoque rachaduras e vazamento. O diretor técnico da Eletronuclear, Evaldo Cesari de Oliveira, revelou que será assinado um convênio nos próximos dias entre a estatal e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para viabilizar o projeto. Ele é considerado fundamental tanto pela Eletronuclear quanto por cientistas que defendem maior segurança para as instalações nucleares. Seu custo poderá chegar a US$ 20 milhões.

Juntas, Angra I e II produzem 1.950 megawatts de energia elétrica. O depósito nuclear terá três fases: a consulta a empresas com experiência no ramo, a licitação para a contratação das construtoras e o licenciamento da CNEN e do Ibama. A Eletronuclear pretende adotar um projeto com dez módulos, a serem ocupados gradualmente num prazo de 20 anos. O primeiro módulo poderá receber o lixo existente no País dentro de cinco anos.