Arte
(Bolsa de Arte, São Paulo) – Reunindo cerca de 100 telas e desenhos, esta grande retrospectiva traça um belo inventário do artista gaúcho Iberê Camargo (1914-1994). A vigorosa obra do pintor e gravador se revela em toda eloquência diante do branco das cinco dependências da nova galeria, situada num casarão projetado em 1949 pelo arquiteto Vilanova Artigas. Lá estão desde as calmas paisagens dos anos 40 até as enormes telas da década passada, quando o artista se voltou para um figurativismo fantasmagórico, marcado pelos tons violáceos de obras-primas como No vento e na terra, de 1991. Grande destaque foi dado à fase dos carretéis, sem esquecer, é claro, do período expressionista abstrato representado, entre outros, pelo óleo Tensão II (1969), quando Iberê levou ao limite seu estilo de pinceladas nervosas. (Ivan Claudio)
Não perca

Cinema
(cartaz nacional na sexta-feira 18) – Num futuro próximo, o porta-aviões U.S.S. Carl Vinson, comandado pelo almirante Reigart (Gene Hackman), patrulha a costa bósnia monitorando a luta encarniçada entre facções rivais. Durante um vôo de reconhecimento sobre o território hostil, o tenente Burnett (Owen Wilson) tem seu caça supersônico abatido logo após fotografar algo muito importante e misterioso. Com esta história, o estreante na direção John Moore – um representante típico da geração MTV – fez de seu filme um delírio visual comparável a Matrix ou a Réquiem para um sonho. Em compensação não diminuiu o sentimento ufanista que o norteia. Sentimento que só aumentou após o ataque terrorista de 11 de setembro. Numa sessão especial realizada antes do dia fatídico, a fita foi recebida friamente. E numa segunda exibição, organizada dias após o atentado, foi simplesmente ovacionada. Sinal dos tempos. (Luiz Chagas)
Vale a pena

Discos
com Djavan (Sony Music) – Depois do disco Bicho solto – o 13, cuja turnê incendiou platéias e resultou num CD duplo, o cantor e compositor alagoano ressurge com um trabalho intimista e bastante autoral. Djavan cuidou da produção, dos arranjos e assinou todas as composições, à exceção de Infinitude e Sílaba, que respectivamente ganharam letra da filha Flávia Virgínia e de Lulu Santos. Embora a primeira canção, Farinha, seja um forró à maneira de Gilberto Gil, a tônica do álbum é puro Djavan – do soft jazz Brilho da noite à balada Om. As duas únicas participações especiais ficaram a cargo do contrabaixista americano Marcus Miller – velho conhecido de Djavan, que encheu de solos a doce Além de amar – e da já saudosa Cássia Eller na faixa-título, um lamento de inspiração ibérica no qual ela canta num tom mais alto do que o habitual. Infelizmente, a fatalidade nos privou de assistir ao vivo este dueto tão especial. (Luiz Chagas)
Ouça sem parar

Sex, age & death

com Bob Geldof (Sum Records) – No mundo pop, o cantor e compositor irlandês é mais respeitado pelos seus projetos filantrópicos como o Live Aid – que rendeu milhões de dólares para as vítimas da fome na África – do que por seu trabalho como músico. Com este novo CD, no entanto, o assunto com certeza deverá reverter a seu favor. Há tempos longe do disco, Geldof retorna com um álbum impecável, em muitos momentos pautado pela tristeza, numa sintonia sutil com a modernidade. Algumas canções lembram o estilo lounge tão em voga. Só lembram, porque nas suas mãos a beleza das melodias supera qualquer flerte com a música sintética, principalmente em relação às letras, na maior parte feitas para purgar um tremendo baixo-astral nos anos 90, depois da separação de sua mulher, que viria a morrer de overdose em 2000. Preste atenção em $6,000,000 loser, Pale white girls e Mind in pocket só para ficar em alguns exemplos de um álbum criativo, inteligente e sensível.
(Apoenan Rodrigues)