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PROMESSA
Palocci garantiu à presidente e aos parlamentares do PT que dará
explicações convincentes ao Ministério Público
 

Apesar do enorme esforço do governo para debelar a crise, o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, continua na berlinda, sem explicar a multiplicação de seu patrimônio e terminou a semana com a certeza de que, se sobreviver a este turbilhão, não poderá mais exercer seus poderes da forma como fez nos cinco primeiros meses de governo. Em seu primeiro pronunciamento sobre o rumoroso caso, a presidente Dilma Rousseff pôs a mão no fogo e garantiu que o ministro não tem nada a esconder. “Palocci está dando todas as explicações aos órgãos de controle. Não se trata de nenhuma manipulação. Lamento essa questão estar sendo politizada”, afirmou na quinta-feira 26. Em conversas informais, porém, Dilma Rousseff comentou que sabia da existência da consultoria de Palocci, mas não estava bem informada sobre a natureza e o volume de seus negócios. E são exatamente essas as questões que o ministro terá de esclarecer ao Ministério Público: quais eram exatamente os seus negócios e quanto eles lhe renderam. Em portaria publicada na terça-feira 24, o Ministério Público Federal abriu oficialmente uma investigação sobre o enriquecimento do ministro. Ela será conduzida pelo procurador da República no Distrito Federal, Paulo José Rocha, que já solicitou à Receita as cópias das declarações de renda da consultoria de Palocci de 2006 a 2010.

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AJUDA
Lula foi a Brasília buscar o apoio dos
senadores aliados na defesa a Palocci

No Congresso, o comportamento da oposição, que poderia ser considerado ameno até a sexta-feira 20, ganhou contornos mais agressivos. Na segunda-feira 23, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) afirmou, do alto da tribuna, que Palocci deve renunciar ao cargo para “evitar maiores danos” ao governo. Em aparte, a senadora Ana Amélia (PP-RS) recomendou que Dilma siga o exemplo do ex-presidente Itamar Franco, que afastou o então ministro da Casa Civil Henrique Hargreaves, acusado de irregularidades. Esclarecidos os fatos, Hargreaves voltou ao cargo mais forte, lembrou a senadora. Na sexta-feira 27, uma lista propondo a abertura de uma CPI já contabilizava 100 assinaturas. Não se trata de um número que ameace a ampla maioria parlamentar ligada ao governo, mas mostra que Palocci já não detém o mesmo poder de antes e está chamuscado.

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Para livrar o ministro das chamas, o ex-presidente Lula protagoniza o papel de bombeiro. Voltou a vestir o terno e desembarcou em Brasília para comandar a operação de salvamento. Em reunião com senadores do PT na terça-feira 24, Lula cobrou a unidade do partido em defesa de Palocci e acusou o ex-governador José Serra de ser o responsável pelo vazamento de dados sobre o faturamento da empresa de Palocci, de R$ 20 milhões em 2010. No dia seguinte, foi a vez dos senadores da base aliada. Em café da manhã na casa do presidente do Senado, José Sarney, Lula ouviu queixas, pedidos de cargos e comprometeu-se a azeitar as relações do governo com os parlamentares. Em troca, os senadores presentes se comprometeram a ajudar Palocci. No encontro, no entanto, Lula relatou aos senadores que já alertara o ministro sobre a necessidade de mudanças em sua postura. O ex-presidente recomendou a Palocci que se exponha mais, não deixe de receber parlamentares e atenda aos pleitos da base aliada do governo e do próprio do PT, que reivindica mais cargos no segundo escalão do governo. O ministro sinalizou mais de uma vez que irá seguir os conselhos de Lula. Na quinta-feira 26, durante almoço com 15 senadores do PT no Palácio da Alvorada, com a presença da presidente Dilma, Palocci pediu a palavra e por cerca de 15 minutos falou sobre seus negócios na empresa de consultoria. Não revelou os nomes de seus clientes nem os detalhes dos contratos, mas disse que ganhou muito dinheiro e negou qualquer atividade ilícita. “Ele vinha se mantendo em silêncio e não recebia ninguém. Agora está se expondo e dando explicações. Isso é uma grande mudança”, disse à ISTOÉ um dos senadores presentes no encontro. Outro exemplo da nova postura de Palocci foi dado na noite da terça-feira 24. Depois de uma conversa dura com o vice-presidente Michel Temer, quando ameaçou demitir ministros do PMDB caso o partido votasse contra o governo na questão código florestal, Palocci voltou a ligar pedindo desculpas pela rudeza do telefonena anterior. Temer registrou a nova postura do ministro a alguns líderes que estavam ao seu lado no momento da ligação.

Também trouxe mal-estar a denúncia de que Palocci ajudou a construtora WTorre a receber restituição da Receita Federal, no valor de R$ 9,2 milhões, em troca da contribuição de R$ 2 milhões para a campanha de Dilma à Presidência. A Receita Federal e a presidente desmentiram o favorecimento, mas não impediram que o ex-prefeito Cesar Maia especulasse sobre um possível esquema de caixa 2, nos moldes do mensalão do PT, e obrigou o presidente nacional do PT, Rui Falcão, a se posicionar. “O compromisso do partido agora é defender o governo dos ataques da oposição”, disse Falcão à ISTOÉ. Quanto ao futuro de Antônio Palocci, o que se aguarda, no PT e no Palácio do Planalto, é que o ministro dê explicações convincentes ao Ministério Público. O mais rápido possível. Palocci poderá sobreviver, mas terá de comandar a Casa Civil com mais diplomacia.  

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