Foi no dia 23 de dezembro de 1888 que o pintor expressionista holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) sofreu a sua primeira grave crise psiquiátrica que o levou a cortar o lóbulo da orelha esquerda e, em seguida, ser hospitalizado numa clínica na cidade francesa de Arles.

O surto eclodiu pouco depois de uma briga entre ele e o artista francês Paul Gauguin. O desenrolar desses fatos está na monumental obra “Vincent Van Gogh: The Letters” (Vicent Van Gogh: As Cartas), da editora inglesa Thames and Hudson, que levou 15 anos para ser concluída e possui seis volumes organizados pelos pesquisadores Leo Jansen, Hans Luijten e Nienke Bakker.

Além de reunir 902 cartas, a obra se diferencia ao revelar mais de três centenas de desenhos do artista, entre eles muitos esboços do que viriam a ser suas obras-primas.

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O semeador O desenho com comentários do próprio pintor que gerou a famosa tela

Do trágico episódio da briga e internação fica-se sabendo que Gauguin deixou o amigo ao temer o seu temperamento agressivo e estava se dirigindo a um hotel quando Van Gogh o abordou com uma navalha em punho. “O meu olhar naquele momento deve ter sido poderoso porque ele baixou a cabeça e seguiu em direção a sua casa”, escreveu Gauguin.

O livro também reproduz o registro da polícia de Arles, em que consta que, naquela madrugada, Van Gogh foi a um bordel, chamou por uma cortesã de nome Raquel, entregou-lhe a parte amputada de sua orelha e lhe disse: “Guarde isso com muito cuidado.” Ele partiu. A polícia o socorreu em sua residência.

Desse fatídico Natal em diante, Van Gogh teria muitas crises, mas produziria centenas de telas e muitas delas aparecem esboçadas em cartas ao irmão Theo. Foi nesse período que o pintor criou as primeiras versões de “Girassóis”, “O Semeador” e “O Quarto de Arles”.

Essas cartas contêm desenhos e comentários sobre suas inspirações artísticas e literárias, nelas pedia dinheiro e expressava opiniões críticas em relação ao trabalho de outros pintores.

“O que Rubens sabe fazer é retratar à perfeição uma rainha ou um estadista”, anotou ele sobre o pintor Peter Paul Rubens, a quem não lhe agradava o realismo excessivo de alguns trabalhos.

Van Gogh também pedia ao irmão material para pintar e são frequentes as epístolas que começam dizendo “obrigado pelos 50 francos que me enviou na última missiva”.

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Comedores de batata Van Gogh inspirou-se nas tavernas de Arles

A última carta escrita por ele, também endereçada a Theo, data de 27 de julho de 1890 e foi encontrada no bolso de sua calça quando de seu suicídio com um tiro no peito. Nela Van Gogh refletia sobre seu trabalho com cores, falava dos campos de trigo e dos belos dias e sol que vinham fazendo em Arles.

Theo morreria três meses depois, vítima da sífilis. A publicação desse magistral livro coincide com a exposição “As Cartas de Van Gogh: O Artista Fala”, aberta na Holanda.

É o início das homenagens pelos 120 anos da morte de um dos mais geniais e angustiados artistas da história da humanidade.

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Estudos de Van Gogh