A palavra “humor” vem do latim “humore” e significa algo que flui, que se movimenta internamente. Tem a ver com disposições, impulsos e reações emocionais, geralmente sem consciência.

Quantas vezes não somos pegos num humor insuportável, sem termos a menor noção do porquê desse estado? O mau humor, em geral, é maior do que nossa consciência. Nos pega de tal jeito que não conseguimos nos livrar facilmente dele. Aqui está presente um conteúdo inconsciente, geralmente jogado sobre o vizinho mais próximo, parente, cachorro e cia.

Por outro lado, “senso” refere-se à habilidade de apreciar ou compreender um fato. Nesse caso, a consciência tem de estar presente. Sem consciência não há “senso de humor”. Desse modo, senso de humor refere-se à capacidade de apreciar conscientemente uma situação estabelecendo certa distância do mundo. Uma distância que nos permite parecer não estar levando muito a sério aquilo que internamente levamos (mesmo escondendo) muito a sério. Sem a devida distância em relação a um fato perturbador, corremos o risco de nos tornarmos presos a uma situação sem saída. De outro lado, se a distância necessária é mantida, toda a tensão nos gestos e atitudes pode dar lugar a um sorriso.

A importância do senso de humor está no fato de ele nos proteger da vaidade e do orgulho excessivos. Mesmo a maior vitória ou a maior derrota com humor tornam-se relativas, dando-nos a correta dimensão de um fato. Senso de humor sempre nasce do senso de proporção. Vemos em grandes poetas, escritores, cientistas e filósofos esse senso de humor que brilha mesmo quando falam de tragédias e desgraças.

O riso cura humilhações, exigências inúteis, vaidades feridas, ressentimentos e raivas há anos curtidos. Relativiza a importância de nossos feitos, de nossas graças e desgraças. Desincha o ego inflado e enche o ego murchado. Senso de humor funciona como um espelho, dando a importância real de nossos feitos grandiosos ou vergonhosos. Estudos sobre humor têm mostrado que as piadas mais engraçadas são aquelas com as quais o público se identifica com o personagem. Isto é, piadas sobre nós mesmos. Mesmo o humor negro que realça, com amargura e crueldade, os absurdos da vida, é melhor do que o excesso melodramático novelesco.

Rir é sinal de saúde. Pessoas mentalmente perturbadas, doentes mentais não têm senso de humor. Aqui se incluem também os poderosos e falsos profetas, geralmente aprisionados num tipo de falsa grandiosidade. Presunçosos levam tudo extremamente a sério, inclusive sua própria importância. O bom humor, especialmente quando compartilhado, tem uma dimensão social importante: nos livra do medo do ataque e aumenta a tolerância para com os diferentes conflitos. Com bom humor criamos novas soluções, modificamos o ambiente e influenciamos mais gente.

Somos mais preparados para viver quando recuperamos nossa habilidade de nos divertirmos. A expectativa de fazer algo bom é também essencial e causa de grande prazer. Pois envolve a esperança, que é um sentimento de expansão. Pesquisas com pessoas saudáveis de mais de 80 anos revelam que elas estão sempre esperando por algo muito agradável, cheias de planos para novas realizações. Ter expectativas positivas é tão necessário para o organismo como comer bem e se exercitar. Um feliz 2002 vai depender em boa parte da nossa capacidade de, com bom humor, sustentar nossos sonhos, dando a devida proporção aos tropeços, mistérios e sucessos da vida.