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O presidente sérvio, Boris Tadic, anunciou nesta quinta-feira a prisão de Ratko Mladic, o homem mais procurado da Europa, que atuou como chefe do Exército da Sérvia durante a guerra da Bósnia. "Detivemos Ratko Mladic hoje (quinta-feira) de manhã. O processo de extradição está em curso", afirmou Tadic, aludindo à transferência do ex-comandante para ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia.

O procurador do TPI para a ex-Iugoslávia, Serge Brammertz, declarou nesta quinta-feira à AFP que a Sérvia "cumpriu uma de suas obrigações internacionais" com a captura de Mladic. 

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, saudou nesta quinta-feira a detenção do ex-chefe dos sérvios da Bósnia, e pediu que ele seja levado imediatamente ao TPI. Ashton "espera que Ratko Mladic seja transferido imediatamente para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia", declarou seu porta-voz, Michael Mann, em seu perfil no Twitter. A prisão de Ratko Mladic é "um passo importante para a Sérvia e para a justiça internacional", acrescentou, parabenizando o governo sérvio por "esta decisão corajosa".

Senhor da guerra

O general sérvio-bósnio Ratko Mladic ficará conhecido na história como um dos culpados pela matança de milhares de muçulmanos em Srebrenica e pelo sangrento cerco a Sarajevo na guerra da Bósnia (1992-1995). Acusado de genocídio, de crimes de guerra e contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Iugoslávia em 1995, o general Mladic, de 68 anos, é alvo de um mandato de prisão internacional desde 1996.

Ele é considerado um dos principais artífices da política de "limpeza étnica" na Bósnia, junto com o ex-presidente sérvio-bósnio Radovan Karadzic, detido há menos de três anos.

Nascido no dia 12 de março de 1943 na cidade de Bozinovici, no leste da Bósnia, Mladic viveu sua infância traumatizado com a morte de seu pai, assassinado pelas milícias croatas pró-nazistas ("ustachis") quando tinha apenas dois anos. Mladic, que com o passar dos anos chegaria a general, cresceu acompanhando o acirramento do ódio contra os ustachis e os muçulmanos.

Ávido por vingança, tornou-se um defensor extremo do "povo sérvio ameaçado de genocídio e condenado a desaparecer com a entrada do Islã em território europeu", defendendo ardentemente a ideia de uma "grande Sérvia". Como líder das milícias separatistas sérvias na Croácia, em 1992, depois da proclamação da Republika Srpska (RS), na Bósnia, foi nomeado comandante das forças sérvias da Bósnia.

Baseando-se na máxima de que "as fronteiras sempre foram traçadas com sangue e os Estados são delimitados com tumbas", Mladic permaneceu impassível e impiedoso no cerco a Sarajevo durante três longos anos.

Em julho de 1995, as tropas que o general mantinha sob suas ordens se apoderaram do enclave muçulmano de Srebrenica, que estava teoricamente sob proteção de forças da ONU, e fizeram estragos, massacrando quase 8.000 muçulmanos desarmados.

No ano seguinte, tendo contra si uma ordem de detenção internacional, Mladic foi destituído pela presidente da RS, Biljana Plavsic. Entrincheirou-se em seu feudo de Han Pijesak, uma base militar próxima a Sarajevo, e de lá viajou para Belgrado, onde teve uma vida confortável até a queda em 2000 do regime de Slobodan Milosevic.

Passaram-se anos de desmentidos oficiais sobre a permanência do general na Sérvia até que, em 2005, um relatório dos serviços secretos de Belgrado revelou pela primeira vez que tinha ficado escondido até junho de 2002 em território sérvio graças à ajuda de oficiais que o protegiam.

Repercussão

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou por sua vez que a detenção do homem mais procurado da Europa é "um dia histórico" para a justiça internacional. "É um dia histórico para a justiça internacional, um passo à frente em nossa vontade de acabar com a impunidade", declarou Ban Ki-moon em Paris, onde participa de um encontro na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Para o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a Sérvia deu um "passo a mais para sua integração à União Europeia". "É uma decisão muito corajosa do presidente sérvio e é uma etapa a mais para a integração, em um futuro próximo, da Sérvia à União Europeia", disse Sarkozy a jornalistas em Deauville, pouco depois de almoçar com seus sócios do G8 reunidos nesta cidade. "É uma ótima notícia. É uma grande notícia", enfatizou o mandatário francês.

Os Estados Unidos se declararam "encantados" nesta quinta com a prisão do general sérvio-bósnio – e, assim como os europeus, esperam que ele seja levado rapidamente para TPI. "Os Estados Unidos estão encantados em ouvir o anúncio do governo sérvio de que capturou Ratko Mladic", disse aos jornalistas Ben Rhodes, vice-conselheiro de segurança americana, durante a cúpula do G8 em Deauville (noroeste da França). "Esperamos uma transferência rápida para o Tribunal de Haia", acrescentou Rhodes, que felicitou o governo sérvio.