A intensidade da crise diminuiu e trouxe um certo alívio ao governo federal. Mas alguns líderes petistas ainda têm motivos de sobra para constantes dores de cabeça. Um deles é o governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, que teve na semana passada a quebra dos seus sigilos bancário, telefônico e fiscal determinada pela Justiça do Estado. Zeca e outros petistas são suspeitos de irregularidades em licitação que concedeu à sua família a administração, por 30 anos, do terminal fluvial Porto Murtinho.

Uma outra denúncia, agora, pode causar mais incômodos ao governador. Sua administração é acusada também de ter pago R$ 8,9 milhões por um computador de grande porte – um mainframe – que, à vista, em preços de mercado, custaria, no máximo, R$ 3,3 milhões.
O fato gerou mal-estar entre especialistas da área de tecnologia de informação.

Uma das causas para o governo gastar R$ 5,6 milhões a mais teria sido a contratação de uma empresa, a Itel, de Campo Grande, para intermediar a compra. O supercomputador – utilizado no processamento de grandes volumes de informações em ambientes comerciais ou científicos – armazenará dados sobre folha de pagamento, arrecadação e multas no Estado. Encarregada da compra, a Secretaria Estadual de Receita e Controle lançou o edital para a aquisição do equipamento com o valor estipulado em R$ 8,9 milhões, quando técnicos do próprio governo teriam feito a cotação do equipamento e chegado ao preço de R$ 3,3 milhões. A homologação aconteceu em janeiro, quando a Itel adquiriu o equipamento, um IBM Z890, da empresa Ação Informática, de São Paulo.

O secretário de Receita e Controle de Mato Grosso do Sul, José Ricardo Cabral, alega que os valores divulgados basearam-se apenas no extrato do contrato publicado no Diário Oficial, quando haveria outros custos. “O valor se refere ao aluguel por 36 meses com cláusula de inversão de domínio (espécie de leasing)”, afirmou, através de sua assessoria. Segundo ele, ainda estariam incluídos no valor “taxa de administração, migração de dados do sistema, software e atualização e suporte técnico pelo período do contrato”. O diretor da Ação Informática, Maurício Teixeira, admitiu que o computador custaria “entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões”, mas também alegou que seriam necessários outros serviços complementares. “Só não estou a par de quais seriam”, ressaltou. Na Itel, os diretores não foram encontrados. Um especialista do setor ouvido por ISTOÉ, que preferiu se manter no anonimato, disse que o valor de R$ 3,3 milhões já incluiria eventuais taxas e serviços de manutenção. Cabe ao governador esclarecer a confusão.