Discos
The music from Drawing restraint 9, com Björk (Universal Music) – Um aviso aos fãs de Björk: o CD em questão não é um disco “normal” de carreira da cantora islandesa. Trata-se da trilha do filme de seu marido, o escultor e artista multimídia americano Matthew Barney. Como os trabalhos experimentais de Barney tendem para o bizarro, e a música de Björk está cada vez mais estranha… A curiosa Pearl, por exemplo, simula a respiração de caçadoras de pérolas por meio de cantos guturais com fundo de sho, instrumento de sopro japonês. A referência faz sentido, já que o filme mostra dois ocidentais (Björk e Barney) a bordo de um baleeiro japonês prestes a afundar. Portanto, não deve causar espanto o longo canto nô de Holographic entrypoint. Mas bastaria Gratitute, com vocais de Will Oldham, harpa de Zeena Parkins e coro infantil, para o disco se justificar. Sua letra é uma carta de 1946 endereçada ao general MacArthur por ter suspenso o embargo à pesca das baleias. Ouça com atenção. (Ivan Cláudio)

Arte
Terra (Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro) – A produção recente de Guilherme Secchin é de tirar o fôlego. São 43 trabalhos, a maioria inédita, em que o artista homenageia o planeta com uma predominância de tons sépia. A fonte de inspiração foram suas incursões pelo Jardim Botânico e arredores de seu ateliê, em Itaipava, na região serrana. As florestas difusas de Mata Atlântica se fundem à paisagem em uma atmosfera onírica, assim como a margem de rios ou mapas imaginários. Suaves pinceladas de arabescos realçam a influência barroca do artista capixaba. A obra de Secchin desafia os limites entre a figura e a abstração, em um intrincado jogo de texturas e cores de extraordinária beleza. Sua participação na V Bienal Internacional de Arte Contemporânea, que acontece em dezembro em Florença, tem première no tríptico O espaço entre nós, monumentais lâminas de três metros de altura semelhantes a papiros suspensos. Não perca. (Celina Côrtes)

DVD
O pássaro das plumas de cristal (Aurora DVD) – Não se trata de nenhuma fantasia de gala carnavalesca. A ave rara, vinda das regiões geladas da Rússia, aparece na trama de suspense policial do italiano Dario Argento como elemento-chave para desvendar um crime serial que apavora a Roma dos anos 70. Em sua obra de estréia, o primeiro da chamada trilogia animal, Argento – filho de uma modelo brasileira – mostra-se um diretor de completo domínio do cinema, adquirido em produções de western spaghetti, nas quais assinava os roteiros. A trama pode soar hoje meio ingênua e um tanto simplória ao abordar a mente criminosa. Sem falar que os diálogos envelheceram. Mas isso pouco importa. O que ainda surpreende é a forma como Argento, o criador do suspense conhecido na Itália como “giallo”, seduz com os meios propriamente cinematográficos. Assista com atenção. (Ivan Claudio)