quedadeparis1.jpg

SEM FUMAÇA: o Cafe de Flore, que tinha como cliente o filósofo Jean-Paul Sartre, fumante convicto

Agora nos cafés de Paris apenas jornal e o clássico cafezinho. Desde o primeiro dia do ano, o hábito francês de acender um cigarro enquanto outra fumacinha, ainda quente, se levanta da xícara já não é mais permitido. E não apenas nos charmosos pontos de encontro da Rive Gauche, a margem esquerda do rio Sena que ficou famosa pela concentração de intelectuais nas mesinhas de seus bistrôs e restaurantes. No mais famoso deles, o Cafe de Flore, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre batia diariamente o cartão com a mulher, Simone de Beauvoir. Eram noites agitadas, regadas a bom vinho, belas baforadas e grandes idéias. Durante décadas, legiões de turistas tentavam sentir- se inteligentes na mesma situação.

A nova lei varreu a nostalgia do ambiente como um potente ventilador. Levar à boca um cigarro das marcas Gauloise ou Gitanes – se possível imitando poses de Jean-Paul Belmondo ou Brigitte Bardot – fazia parte do ritual de se estar em Paris. Mesmo se o gosto não fosse lá dos melhores. Metade da população francesa entre 18 e 34 anos fuma. Um contingente de 15 milhões de pessoas que está se sentindo sem lugar com a entrada em vigor do decreto proibindo cigarros, cigarrilhas, charutos e cachimbos nos 200 mil bares, restaurantes, discotecas e cassinos do país. Trata-se do resultado de 30 anos de uma legislação cada vez mais restritiva contra o fumo, cujo objetivo é reduzir o número de mortes – 66 mil por ano – e proteger os fumantes passivos, que contribuem com cinco mil mortes.

Apesar de atingir em cheio a aura romântica da cidade-luz, a nova lei parece agradar à população. Pesquisas de opinião mostraram que a maioria era favorável à medida. Uma dessas enquetes, divulgada em fevereiro do ano passado, indicava que 86% dos franceses apoiavam a mudança. A União das Empresas de Hotelaria, que representa também cafés e restaurantes, teme um efeito catástrofe que leve a uma crescente diminuição no número de clientes. Levantamento mais recente, no entanto, publicado em outubro, mostrou que 90% dos entrevistados pretendem continuar a freqüentar seus cafés preferidos. Mesmo que tenham de sair do agradável ambiente calafetado e enfrentar o frio das ruas para dar uns tragos, como tem acontecido nesses dias de inverno rigoroso.

Nada leve também é a punição para infratores. Trabalhadores que saírem para fumar na porta do escritório podem receber multas de 183 euros (cerca de R$ 480), caso joguem bitucas na calçada. Para aqueles que tentarem desobedecer a nova lei e fumar em cafés e restaurantes, o valor sobe para 450 euros (R$ 1.180). Os comerciantes que fizerem vista grossa poderão ser taxados em 750 euros (R$ 1.970). Paris já não é a mesma. Para os fumantes, então, pode ficar ainda mais cara.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

 

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias