No mundo do cinema, do teatro e da televisão, as histórias fora do palco e dos estúdios são sempre as mais curiosas e interessantes. Na política não é diferente. Os bastidores das campanhas são a melhor parte. Não é à toa que na primeira frase do livro Batalhas eleitorais – 25 anos de marketing político, da Geração Editorial, o autor, o jornalista Chico Santa Rita, avisa: “Eleição é guerra.” Um dos pioneiros do marketing político no Brasil, Santa Rita – que venceu 80% das batalhas que liderou – revela muitos desses bastidores. Além de fazer um passeio pela história política recente, o livro tece considerações sobre a polêmica profissão dos especialistas em marketing político, defendendo a tese de que o conteúdo é mais importante do que a forma. Ele lembra que das seis vezes que enfrentou o publicitário Duda Mendonça em campanhas, ganhou cinco.

Um dos trechos mais picantes trata da eleição presidencial de 1989. Chamado para trabalhar para Fernando Collor no segundo turno, Santa Rita conta que, na última semana de campanha, o candidato entregou-lhe uma fita com uma imagem chocante e ordenou-lhe que a utilizasse no programa daquele dia: Lula assistia a três prisioneiros sendo fuzilados em um paredão por homens vestidos com roupas típicas dos guerrilheiros cubanos. Mas um técnico logo verificou que se tratava de uma montagem. O jornalista chamou o comando da campanha de Collor para avisar que, se a imagem fosse usada no programa, ele sairia da campanha. A farsa acabou sendo esquecida. Santa Rita usou então no programa de tevê o depoimento de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, que o acusava de lhe sugerir que fizesse aborto. “Discute-se até hoje a questão ética de trazer ao conhecimento público fatos relacionados à vida privada dos candidatos. A vida do homem público é igualmente pública”, argumenta. E provoca o partido de Lula: “O PT fez um completo dossiê da vida pregressa do seu adversário, com acusações. Só não foram usadas na tevê antes porque entenderam que não era preciso: a vitória de Lula estava garantida. A verdade é que o PT teve a chance e tinha a responsabilidade de livrar o Brasil dos anos Collor.”

Santa Rita trabalhou em mais de 100 campanhas, como as que elegeram os governadores de São Paulo Orestes Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho e a que deu a vitória ao sistema presidencialista no plebiscito de 1993. Conviveu com vários políticos, como Ulysses Guimarães, para quem trabalhou no primeiro turno da campanha de 1989: “Ele não tinha maldades, não tinha ódios, parecia pairar docemente acima da pequenez mundana.” Foi naquele momento, em que a candidatura de Ulysses nunca deu sinal de vida, que o jornalista constatou uma das regras da política. “Os poucos amigos desapareceram”, lembra.

A pior recordação, no entanto, nasceu de uma de suas maiores vitórias: a de Collor sobre Lula. Santa Rita diz que é o único arrependimento de sua carreira. “Fui me decepcionando a cada momento, descobrindo naquele homem uma personalidade errática. Agressivo, perturbado, desumano. Capaz de tudo para atingir suas metas”, relata. Talvez a palavra guerra seja insuficiente para definir o que é uma eleição.