24/09/2003 - 10:00
Trocar o pequeno PSB pelo gigantesco PMDB fez bem à governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus. Em pouco tempo a diferença de tratamento, tanto no Congresso Nacional como no Palácio do Planalto, fez com que Rosinha diminuísse o tom de oposição em relação ao governo Lula. Respaldada por um grande partido e com o apoio de raposas políticas do quilate do presidente do Senado, José Sarney, a governadora vem conseguindo se destacar nas articulações de bastidores em Brasília. “Sinto que agora tenho um partido”, resumiu. Na votação da reforma tributária, Rosinha foi incansável na luta por votos a favor das mudanças. Chegou a tirar dois deputados do avião. O empenho da governadora lhe valeu reconhecimento público e, pelo visto, melhorou seu humor. De bem com a vida, apesar dos problemas de caixa, Rosinha está mais à vontade no governo. Tomou gosto. Nove meses depois da posse, a sombra de Anthony Garotinho, seu marido e secretário de Segurança, também parece menor: “Ele tem hoje a mesma influência que eu tive no governo dele”.
Sinto que agora tenho um partido para defender o Rio de Janeiro junto ao governo federal. Os senadores
têm se pronunciado em defesa do Estado e isso fortalece a luta para que o Rio não continue perdendo.
Fortaleceu a relação. Todas as vezes que precisei de audiência com os ministros, fui atendida porque o partido sempre se põe unido. No PSB era mais difícil conseguir uma audiência.
O meu discurso não está nem mais nem menos, é o mesmo. Quando eu discordava de alguns pontos da reforma tributária, achavam que eu queria jogar pedra no governo federal, entendiam mal as observações que faço até hoje. Fui a única governadora que não assinou as duas reformas e levantei os pontos que estão sendo discutidos agora. As relações têm melhorado porque a tendência é essa. Toda pessoa que chega ao poder tem de ter bom relacionamento com todo mundo, independentemente de partidos.
Não estamos discutindo uma provável candidatura, até porque é muito cedo para avaliar o quadro. Se o governo estiver muito bem, se o Brasil estiver gerando emprego e crescendo como Lula promete, não cabe uma candidatura nossa em 2006. O Garotinho é novo, não tem pressa, e hoje estamos preocupados em governar bem o Estado. É a minha missão, com a ajuda dele na Secretaria de Segurança, o que já é muito trabalho.
É muito cedo. Até porque estivemos voltados para as reformas, mas ele precisa tomar alguma medida de impacto para tirar o Brasil da recessão em que entrou neste ano. Algo precisa acontecer e alguns ministros me disseram que nesse último trimestre as coisas vão começar a melhorar. Eu tenho de confiar porque não desejamos que o Brasil afunde. Se afundar, afunda todo mundo junto. O Brasil precisa crescer e, se Lula precisar do nosso apoio institucional, vamos dar.
Segundo comentários na Câmara, a única que fez boca de urna junto aos deputados fui eu. Eu me reúno com a bancada, ligo para os deputados, acompanho as votações. Quando não posso estar lá, vejo pela tevê e fico em contato direto com os parlamentares que estão lá no plenário para a gente se organizar. Sem contar as conversas com as lideranças antes das sessões. Ficamos atentos a tudo, principalmente às redações das emendas.
Na cobrança do ICMS do petróleo, posso considerar até hoje que foi uma vitória muito a longo prazo para o meu gosto, mas não podemos pensar o Estado só a curto prazo. Haverá uma transição até que, daqui a 11 anos, o petróleo passe a vigorar na mesma legislação do País, com a cobrança do ICMS de todos os produtos no Estado de origem (produção) ou no do destino (consumo). Está se definindo pelo destino, tudo bem. Eu sempre lutei para que haja uma mesma lei para todos os produtos, e não uma diferente para o petróleo. Quero tudo na mesma legislação. Não foi aprovado o que eu queria, mas pelo menos incluímos na pauta. O Noroeste do Rio foi incluído no Fundo de Desenvolvimento Regional, mas há uma discussão importante que, se não puder mais ser feita na Câmara, queremos fazer no Senado. O dinheiro vai todo para um fundo e, depois, a articulação política é que define a aplicação. Eu quero que os recursos sejam carimbados para garantirmos que venham mesmo, e não ficar tudo solto dentro do mesmo fundo. Em relação à desoneração das exportações, o Rio não ganha nem perde. Se não perder, já está de bom tamanho, mas eu ainda afirmo que seria melhor federalizar o crédito para não ter problema com os Estados. Não é, de forma alguma, a reforma que o País precisa, mas não podemos deixar o Brasil sem uma reforma. Ninguém pode perder tudo e ninguém pode ganhar tudo. Vamos encontrar um equilíbrio.
Estamos lutando. O vice-presidente, José Alencar, defende uma refinaria no norte Fluminense. Quando mostrei para ele que temos quase 83% da produção nacional e só refinamos 13%, ele achou um absurdo e passou a defender a refinaria aqui. A de Pernambuco vai
ser para refinar o óleo leve e a nossa é para o óleo pesado. O Brasil perde dinheiro porque o óleo bruto vai para o Exterior e volta refinado, com valor agregado. Se é feito aqui, vai gerar imposto e emprego.
O problema é que a Petrobras tem de estar de acordo, apesar de
não precisar gastar nada. Quem vai investir mais de R$ 2 bilhões
sem a garantia de que terá o óleo?
Tomamos as providências e os agentes estão presos. Não aceitamos tortura em nosso governo e os maus funcionários serão punidos. O funcionário tem de trabalhar dentro da lei. Temos de ser rigorosos, mas dentro da lei. Tortura, jamais. Quanto às fitas de vídeo, há controvérsias porque elas não são recentes. Algum amador tinha as imagens guardadas e entregou para uma emissora de televisão. Não sei se são de outros governos. Podem até ser do início do meu, porque pegamos uma situação lamentável, mas muitas decisões já foram tomadas e aquilo não retrata a realidade atual.
Temos um relacionamento muito bom com o ministro da Justiça (Márcio Thomaz Bastos), que desde o início tem sido nosso parceiro. Não tenho do que reclamar. As verbas não saíram porque pegamos o Estado com algumas dívidas que estamos negociando, mas o ministro tem boa vontade para liberar os recursos. Se o governo federal quer trabalhar com os Estados, não seria um secretário meu ou um secretário do governo federal que iria impedir. Não podemos falar que somos amigos, mas temos um bom relacionamento administrativo.
Rosinha – Ele não vai fazer milagre, mas conseguiu avançar muito. De zero a dez, minha nota para ele é 15.
Petróleo e setor naval são os que mais crescem. Abrimos estaleiros e só este ano já foram três mil novos empregos para jovens no setor naval. Nós trabalhamos o desenvolvimento do Estado em termos regionais desde o governo Garotinho. O sul é industrial e a Baixada Fluminense é o pólo gás-químico, que fica pronto em julho. Já deixamos incentivos aprovados na Assembléia Legislativa para empresas transformadoras de produtos plásticos que queiram vir. Na região serrana temos o parque tecnológico, que ampliamos este ano. As regiões mais pobres são o norte e o noroeste. No noroeste, se carimbarmos as verbas do Fundo Regional de Desenvolvimento, não haverá milagre, mas vamos deslanchar. No norte é a refinaria. Naquela região o investimento em produção agrícola é muito grande, mas não basta melhorar só a zona rural. A refinaria é fundamental para a região crescer.
Para resolver, precisamos do apoio do governo federal. É preciso que se determinem rotas para o Rio. Precisamos ter linhas que saiam direto do Rio, sem ter de ir sempre a São Paulo.
Não é só pelo mercado. Quem estimula é o poder público. Aqui tem mercado, turismo de negócios e de lazer. Estamos falando do segundo Estado da federação! De 1997 a 2001 o Rio ganhou 60% das competições para sediar eventos, convenções e congressos. Isso mostra que temos mercado e as coisas acontecem aqui. É preciso ter mais bases de vôos no Rio, dar mais condições para as pessoas chegarem aqui. Se há a intenção de fazer com que as pessoas cheguem ao Rio, dando de cara com esse visual maravilhoso e se apaixonando à primeira vista pelo Brasil, é só decidir.
(Risos) Eu vejo a hotelaria crescer, os empresários se esforçam, não posso chamá-los de preguiçosos. Os hotéis no Rio têm tido sua lotação quase que total e estão construindo novos. Há menos de um mês fui à inauguração de um hotel maravilhoso na Barra. E outros investimentos virão. Temos a perspectiva dos Jogos Pan-Americanos e até das Olimpíadas de 2012. Acho que os investimentos vão chegando à medida que oferecemos condições. No Rio, temos regiões maravilhosas, um pouquinho de tudo. O empresário não investe mesmo em quadro de recessão e o País precisa crescer, uma coisa está ligada à outra.
Tenho um amadurecimento grande para separar eleição de obrigação como governo. Vou falar o que for preciso com o prefeito Cesar Maia (PFL) para o Rio crescer, investir no Pan, conquistar as Olimpíadas. Eleição é outra coisa. E precisamos do governo federal também. Falei com o presidente Lula e ele ficou de marcar uma reunião com a presença do prefeito. O papel do governo federal é na área de transporte, o metrô para Jacarepaguá e Barra. A avaliação das cidades para as Olimpíadas começa no ano que vem e as coisas têm de caminhar.
A mesma que eu tive no governo dele. Como qualquer pessoa casada, converso com meu marido sobre tudo, sobre as alegrias e as tristezas da vida, eu converso com ele como ele conversava comigo quando era governador. Agora, tomar conta da Secretaria de Segurança já é meio governo.
Claro. Governamos juntos, da mesma forma que eu governei com ele esses anos todos, mesmo sem mandato.
Ainda existe, mas diminuiu porque vamos trabalhando e mostrando resultados para a sociedade. Garotinho tem feito muitas palestras sobre segurança na zona sul e as pessoas estão vendo de perto nosso trabalho. Muitas vezes falta informação e as pessoas formam uma opinião de ler ou ouvir dizer. Quanto têm oportunidade de assistir a uma palestra, de estar perto, mudam.
Não (risos). A imprensa é que quis me engravidar. Eu tive uma queda de pressão e associaram logo a uma gravidez. Já fiz laqueadura de trompas, mas, como engravidei da minha quarta filha assim mesmo, o médico pediu os exames para descartar a idéia com mais segurança. Não me preocupei porque não estava me sentindo mãe de novo. A gente, quando está grávida, se sente mãe.
Quem aponta esses projetos como assistencialistas?
No PT (risos)? O que é o Fome Zero? Qual é a diferença? O povo tem fome. Não dá para cruzar os braços e ficar pensando
na transformação do País sem resolver o que as pessoas precisam de imediato. Se você não der oportunidade para os que estão à margem, vai contribuir para essa sociedade injusta. Eu não fico feliz de criar esses programas, crio por necessidade. Espero que o Brasil um dia não precise mais deles.