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O ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga, à frente da autoridade monetária entre 1999 e 2002, vem sendo cotado como um dos possíveis sucessores do ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn, que renunciou ao cargo na quarta-feira, enquanto enfrenta, preso, um processo sob acusação de ter abusado sexualmente de uma camareira de hotel em Nova York.
Fraga, no entanto, descartou ser candidato ao cargo durante o 23º Fórum Nacional, realizado no Rio de Janeiro, no dia 15 de maio, de acordo com entrevista ao jornal O Globo. A tradição hierárquica do FMI indica que o diretor-gerente deverá ser um europeu.

Segundo a Reuters, Armínio Fraga é frequentemente citado internacionalmente como um dos mais bem sucedidos presidentes do BC. Investidores atribuiriam a ele o amortecimento dos efeitos da desvalorização da moeda brasileira em 1999, quando elevou os impostos a 42%, dificultando a concessão de crédito.

Fraga também teria pontos positivos por ter trabalhado como diretor administrativo na empresa do megainvestidor George Soros, em Nova York, por seis anos, e comandado sua própria companhia de investimentos, Gávea, vendida por ele ao JP Morgan.

Ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, enviou uma carta aos ministros do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) na qual afirmou que "o FMI não pode ficar para trás nesse processo de mudança institucional". "Já se passou o tempo em que poderia ser remotamente apropriado reservar esse importante cargo para um cidadão europeu", escreveu.

Europa

A UE, decidida a tentar manter um europeu à frente do FMI após a renúncia de Dominique Strauss-Kahn, trabalha em uma candidatura da ministra francesa Christine Lagarde, embora a lista de potenciais sucessores seja longa. "Temos que apresentar um candidato europeu", afirmou nesta quinta-feira a chanceler alemã Angela Merkel.

A Europa é o principal contribuinte do Fundo Monetário Internacional (FMI), e há uma tradição de conceder a liderança do organismo, com sede em Washington, aos europeus, enquanto o Banco Mundial é reservado aos americanos. Mas a emergência de novas potências no tabuleiro mundial pode mudar as regras do jogo. Vários países, como Brasil, China, Argentina e México, têm criticado a atribuição automática do posto para um europeu.

"Já passou o tempo em que poderia ser remotamente apropriado reservar este importante cargo a um europeu", considerou o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, em uma carta enviada ao G20. O México, por sua vez, pediu que o próximo diretor do FMI seja nomeado em função de seus méritos, e não de sua nacionalidade. Segundo a imprensa, o país pode apresentar dois candidatos: o ex-presidente Ernesto Zedillo e o governador do Banco Central, Agustín Carstens.

O turco Kemal Dervis, ex-ministro das Finanças, também surge como possível candidato dos países emergentes. Mas os europeus já trabalham com o nome da ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, de 55 anos. É "natural" que os europeus indiquem "um candidato forte e competente", segundo o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.

Nos bastidores, Lagarde é citada com cada vez mais frequência, recebendo o importante apoio de Berlim, segundo a imprensa alemã. "Viva a Europa!", afirmou misteriosamente nesta quinta-feira Lagarde ao ser consultada sobre suas aspirações. "Toda candidatura" deve ser fruto do consenso entre os europeus, defendeu a ministra das Finanças, no posto desde 2007, considerada um dos pesos pesados do governo do conservador Nicolas Sarkozy.

Lagarde é "uma candidata evidente", admitiu seu colega sueco, Anders Borg, mencionando a "influência e a experiência" da ministra. "Tem uma reputação sólida dentro e fora da Europa", destacaram fontes diplomáticas europeias.

Alguns países também veem com bons olhos a possibilidade de, pela primeira vez desde sua fundação, em 1946, uma mulher assumir a liderança da instituição financeira. "Há uma escassa presença (feminina) nos postos de responsabilidade" das organizações internacionais, lembrou esta semana a ministra espanhola da Economia, Elena Salgado.

A possível abertura de uma investigação em um caso de suposto abuso de poder na França pode, por outro lado, comprometer as aspirações de Lagarde. Os europeus já estariam pensando em outro nome: o do também francês Jean-Claude Trichet, atual presidente do Banco Central Europeu. Seria "um candidato fantástico", declarou o diretor do Banco Central holandês, Nout Wellink.

Por enquanto, o FMI se nega a dar detalhes sobre um calendário de substituição de Strauss-Kahn, que dirigia a instituição desde 2007 e desempenhou no ano passado um papel-chave nos resgates financeiros dos países da Zona do Euro. "O Fundo informará em breve sobre o processo de seleção. Enquanto isso, (o número dois) John Lipsky continua sendo o diretor geral interino", indicou em um comunicado.

Ásia

Enquanto a ministra francesa Christine Lagarde, aparece como a provável principal candidata ao cargo de líder do Fundo Monetário Internacional (FMI), várias autoridades da Ásia aproveitam a oportunidade para pressionar por um candidato asiático ou de uma economia emergente ao posto.

O ministro de Finanças da Tailândia, Korn Chatikavanij, afirmou que a renúncia de Strauss-Kahn é uma oportunidade para romper uma tradição segundo a qual a Europa é normalmente designada para liderar o FMI. "Não existe lógica na tradição de o FMI ser dirigido por um europeu", afirmou Korn.

Segundo o ministro tailandês, se a organização quiser continuar realmente global, o novo líder deve ser selecionado a partir das possibilidades mais amplas possíveis. "O mundo mudou muito nos últimos três ou quatro anos", argumentou Korn. "A emergência do G-20 e o aumento da importância do grupo nas relações globais mostram que talvez seja o momento de essa tradição ser revisada", disse.

O secretário de Finanças das Filipinas, Cesar Pirisima, defendeu um asiático para o cargo. "Dada a necessidade urgente de uma liderança estável no FMI, somada a uma mudança no cenário econômico global – no qual a Ásia cada vez mais tem um papel maior como motor do crescimento – não há momento melhor do que esse para um líder asiático assumir o controle de uma organização como essa", afirmou em um comunicado.

A Indonésia também apoia candidatos asiáticos, segundo o ministro de Finanças, Agus Martowardojo. "Seria bom se a oportunidade também fosse aberta para candidatos asiáticos", declarou. Jiang Yu, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, afirmou que o país acredita que as economias emergentes devem ser incluídas na liderança do FMI. Com a saída de Strauss-Kahn, a mais alta autoridade chinesa no fundo, o consultor especial Zhu Min, deverá se tornar um vice-diretor-gerente.

Índia

O ministro de Finanças da Índia, Pranab Mukherjee, disse apenas que o país está "observando a situação". O Japão, por sua vez, quer que o novo líder do FMI seja escolhido de uma forma "aberta, transparente e baseada em habilidades", segundo o ministro de Finanças, Yoshihiko Noda. A autoridade japonesa não quis dar o nome de um candidato nem informou se o Japão vai concorrer à posição.

Não está claro se os países asiáticos ou as economias emergentes podem se unir em torno de um único candidato. Uma fonte norte-americana afirmou que o único modo de bloquear a francesa Lagarde seria se os países do grupo Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – rapidamente chegassem a um acordo sobre um candidato e forçassem os EUA e a Europa a responderem.