Com o bônus que recebeu no mês passado, US$ 140 milhões, o executivo Richard “Dick” Grasso, então presidente da New York Stock Exchange, a Bolsa de Valores de Nova York, poderia ter levado para casa pelo menos duas estrelas do Real Madri, o meia inglês Beckham, comprado por US$ 41 milhões, mais o nosso Ronaldo, o “fenômeno”, que custou US$ 45 milhões. Se preferisse golfe, poderia pagar com folga por uma temporada de Tiger Woods, que em 2002 acrescentou US$ 100 milhões à sua fantástica fortuna. Grasso poderia ainda ter bancado o orçamento do Ministério da Segurança Alimentar do Brasil, de R$ 400 milhões. Chegar a essa bolada – que ele embolsou, além do salário anual de US$ 1,4 milhão – exigiria de um americano médio trabalhar 40 horas semanais durante 5.200 anos, segundo cálculos de fundos de pensão americanos.

Grasso – que pretendia ficar no cargo até 2007, quando o contrato terminaria – caiu, empurrado por pressões que acabaram em escândalo
em Wall Street. Executivos e investidores consideraram a remuneração uma exorbitância – maior ainda quando se soube que, além do bônus, Grasso teria direito a um adicional de US$ 48 milhões. No meio da confusão ele abriu mão desse valor, ao renunciar ao cargo na quarta-feira 17, depois que o conselho diretor convocou uma reunião de emergência para aplacar três semanas de duras críticas ao seu
pacote salarial. Foi uma reunião de duas horas, “acalorada”, segundo
o The New York Times. Ao final, 13 dos 20 participantes votaram
pela saída do executivo.

Grasso é elogiado por ter começado sua carreira na Bolsa de Nova
York como auxiliar de escritório, em 1968, recebendo US$ 82,50 por semana. A indicação para a presidência aconteceu em 1995. O auge de seu desempenho na função foi depois do atentado de 11 de setembro,
há dois anos, por ter conseguido fazer com que Wall Street voltasse
a trabalhar no dia 17. Teve uma carreira admirável na Bolsa. Seria uma história de sucesso perfeita para insuflar o orgulho dos americanos
não tivesse ele, em 2002, nomeado para um posto administrativo da
Bolsa um executivo do Citibank condenado a pagar US$ 400 milhões de multas por práticas ilegais, e, em 2003, causado revolta em Wall Street por conta de seus rendimentos. O diretor interino da Bolsa de Nova
York teria sido escolhido durante a reunião que despachou Grasso.
Seu nome é Lawrence W. Sonsini, diretor executivo da Wilson Sonsini Goodrich, firma de advocacia em Palo Alto, Califórnia. “Acredito que
este é o melhor caminho para mim e para a Bolsa”, disse Grasso
à imprensa, na quarta-feira à noite. “Saio com a mais profunda relutância”. Ninguém duvida disso.