Os pequenos reis e rainhas da casa agora
podem se vestir como tal. Estilistas badalados
começam a emprestar seu talento também à
moda infantil. O mineiro Ronaldo Fraga e os
paulistas Walter Rodrigues, o preferido da
primeira-dama, dona Marisa Letícia, e o badalado
Alexandre Herchcovitch foram os primeiros a
investir neste filão. Em seguida grifes adultas
sofisticadas como a VR e a TNG entraram na
disputa pelo gosto infantil. Tamanho interesse
se explica com números.

Diferentemente dos adultos, crianças precisam renovar o guarda-roupa a toda hora. Dados da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest) mostram que o segmento produz 3% mais roupas do que o masculino adulto no Brasil (algo em torno de 1,26 bilhão de peças/ano) e cresce 5% ao ano. Além da necessidade, o que engorda o mercado é o desejo dos pais de verem seus filhos bem-vestidos. Muitos gostam de enfeitar seus pimpolhos com marcas que compram para eles mesmos.

Foi pensando nisso que o proprietário da marca masculina VR, Alexandre Brett, resolveu investir no segmento infantil. No mês que vem ele inaugura em São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Goiânia uma linha infantil exclusiva para meninos de três a 12 anos. “As butiques da VR Kids serão vizinhas das filiais adultas. Assim, o pai fará compras junto com o filho”, explica o empresário. Mas isso não significa que os pequenos se vestirão como adultos. “Será roupa de criança para criança”, afirma Brett. Para marcar a entrada no setor infantil a marca apresentou, no último domingo em São Paulo, um desfile com produções descontraídas e confortáveis.

Identidade – Assim como a VR, a TNG Junior – linha infantil da paulista TNG – também investiu no segmento para crianças. Depois de um ano e meio de mercado da TNG Junior – que atende a meninos e meninas –, o proprietário da marca, Tito Bessa Junior, inaugurou há dois meses nos shoppings Metro Tatuapé e Jardim Sul, em São Paulo, as duas primeiras filiais infantis separadas da loja adulto. A experiência triplicou as vendas da empresa e deu maior identidade à marca. “A coleção das crianças é bem mais colorida, destoava da linha adulta”, explica Tito. Por enquanto, só São Paulo tem a divisão de TNG e TNG Junior em lojas distintas. Mas, em breve, todas as TNGs do Brasil seguirão o modelo.

A convite da loja infantil Paola da Vinci, de São Paulo, que acumula 25 anos de experiência no setor, o estilista paulista Walter Rodrigues desenvolveu uma linha especial de vestidos infantis. Seguindo sua linha de alta-costura, ele não abdicou do glamour usado em suas criações adultas. Serão seis modelos de vestidos de “gala” inspirados em princesas e bailarinas, sem abrir mão do conforto e da liberdade de movimento. “Não faria se tivesse que abandonar o meu estilo. E me atenho em inspirações que remetam ao universo infantil”, diz. Os exemplares estarão nas lojas da marca em São Paulo e Campinas no próximo mês e já foram mostrados em recente desfile beneficente promovido pela primeira-dama do Estado de São Paulo, Lu Alckmin. Contudo, essa não foi a primeira experiência do estilista no ramo. Atendendo a apelos de amigos próximos, Walter criou por duas vezes vestidos para damas de honra e com isso notou a escassez do mercado quando se trata de roupas de festa. “Não tem muita opção, e como são ocasiões únicas, o consumidor se rende ao aluguel de roupas, o que na maioria das vezes deixa a desejar”, completa.

Também foi por meio de um convite que o moderno Alexandre Herchcovitch entrou no mundo das crianças. A pedido de Susana Jeha, proprietária da loja Banca de Camisetas, em São Paulo, o estilista criou uma linha de blusas infantis. Com estampas renovadas a cada três meses, Herchcovitch resgatou do início de sua carreira os motivos de caveira que se tornaram um registro de suas primeiras coleções. Mas a proposta não é vestir pequenos góticos. As caveiras vêm acompanhadas de estrelinhas ou letras, que dão o toque delicado às criações.

Filho – Em carreira solo, o estilista mineiro Ronaldo Fraga decidiu entrar para o mundo infantil por causa de seu filho, Ludovico. “Não encontrava roupas legais. Fiz o enxoval dele e gostei da brincadeira. Afinal, criar roupas para crianças é um ótimo exercício de estilo”, conta. Depois desta iniciação, Ronaldo investiu no segmento. Em sua última apresentação na São Paulo Fashion Week, em julho, surpreendeu o público com sua coleção infantil. Embora tenha usado um mesmo tema para a coleção adulta e mirim, o estilista se manteve fiel à teoria da criança como criança. “A sexualização do mercado infantil feminino me preocupa. Não suporto ver garotas vestidas como a Kelly Key”, diz o estilista. O sucesso não parou nas passarelas. Ronaldo também surpreendeu nas vendas, que a princípio se limitavam aos seus pontos-de-venda no descolado bairro
de São Pedro, em Belo Horizonte, e no badalado bairro dos Jardins,
em São Paulo. Agora Ronaldo ampliou a distribuição de suas peças
infantis por meio de lojas multimarcas, como a carioca Contemporâneo,
e também nos free shoppings. “A escolha da roupa é uma brincadeira. Tem que se aprender desde cedo. A criança é o consumidor de
amanhã ”, afirma Ronaldo.

Todas essas novidades têm um custo. Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Programa de Administração de Varejo (Provar), o preço médio ideal para uma camiseta infantil está próximo a R$ 7. Uma camiseta infantil com as caveiras do Herchcovitch sai pelo preço médio de R$ 30, metade do preço de uma semelhante em sua loja adulta. No caso de Walter Rodrigues, um vestido adulto custa em média R$ 2.500 enquanto um infantil terá preço aproximado de R$ 700. Preços nada miúdos.

 

Brechó mirim

As semelhanças entre o mercado de moda infantil e o adulto ultrapassou a autoria de grandes estilistas e marcas em comum. Com
o incremento do setor, a criançada tem direito até a brechó. Um bom exemplo é o Bolota, de São Paulo. A proprietária Miriam Sanger, 34 anos, só trabalha com peças em perfeito estado para crianças de até quatro anos. O acervo é composto por 70% de importados, que saem por 30% do preço real, e ainda
conta com ponta de estoque de diferentes grifes nacionais.

Para manter todas as peças prontas para o uso, Miriam confere pessoalmente tudo o que chega a suas araras. “Só trabalho com roupas classe A, com pouquíssimo ou nenhum uso”, conta ela. Miriam decidiu montar o negócio após ter sua filha, Isabella, hoje com um ano e meio. “Como criança nesta faixa etária perde roupa muito rápido, achei que valeria a pena montar um”, diz. Entre as marcas estrangeiras estão Baby Dior, Gap, Armani, Laura Ashley e Jacardi e as nacionais, Simultânea, Maricota e Hering.