A arte samurai está na moda. No cinema, três novos filmes têm como inspiração a milenar técnica de luta dos guerreiros japoneses. Tom Cruise estrela O último samurai. No filme, ele faz o papel de um mercenário a serviço do exército imperial japonês que lutava contra samurais contrários à abertura da ilha às influências estrangeiras. Quentin Tarantino reaparece em Kill Bill, no qual restabelece a bem-sucedida parceria com Uma Thurman (Pulp fiction) e coloca a moça de espada na mão para exterminar uma quadrilha chefiada pela bela Lucy Liu (As panteras). O premiado cineasta japonês Takeshi Kitano (Hanna-Bi, Dolls) revisita
a vida do cego Zatôichi, membro da máfia japonesa e mestre em iaijutsu (a arte de desembainhar a espada). Para completar, Samurai Jack é um dos desenhos de maior sucesso do canal pago Cartoon Network. Nele,
o pequeno Jack luta contra o demônio Abu, que tem como único
objetivo aterrorizar o herói.

Coincidência ou não, é cada vez maior o número de interessados no kenjutsu, a arte de luta de espadas dos samurais. Para comprovar isso, basta uma visita ao Instituto Niten. A escola de guerreiros, que nasceu em São Paulo e hoje está presente em mais 13 Estados, é pioneira no desenvolvimento e divulgação do estilo de vida dos samurais no País. Empresários, executivos e profissionais liberais foram os primeiros a aplicar a filosofia em seus negócios. Agora, é a vez de idosos e crianças entrarem no dojo, onde se desenrola a ação no kenjutsu.

Eles não são muitos. Mas é cada vez mais comum ver vovôs e garotos lutando ao lado de guerreiros de outras faixas etárias. Dos pouco mais de 400 samurais do Niten, 30 têm entre seis e 12 anos. Dez já passaram dos 60. “O kenjutsu ensina o jovem a tomar atitudes ofensivas. Motiva e estimula a criança a desenvolver espírito de luta. Mas sempre respeitando a hierarquia”, diz o sensei (mestre) Jorge Kishikawa, fundador e diretor do Niten. Um dos caçulas da turma, o pequeno Aruanã Morgado, seis anos, está aprendendo a ser um samurai. O garoto sempre foi fascinado por espadas. Mas elas não foram a sua maior inspiração. “Por causa do desenho, descobri que ser samurai é legal”, diz o menino, fã de Samurai Jack. O inimigo de Aruanã era mais assustador que o demônio Abu. “Ele era muito agitado. O kenjutsu o deixou mais tranquilo. Até os frequentes pesadelos diminuíram”, diz Cibele Morgado, 40 anos, mãe do garoto.

Se Aruanã encontrou tranquilidade na luta, com o taxista Matteo Bonfitto, 70 anos, aconteceu justamente o contrário. Cansado de tanto sossego, ele descobriu no kenjutsu uma verdadeira bomba de adrenalina nas suas veias. “É uma terapia fantástica. Estou economizando um bom dinheiro com o psiquiatra”, brinca. E não é só a mente que ganha. “Antes de começar a praticar, minhas pernas estavam muito fracas. Hoje, já estou indo a pé até a padaria”, diz. Para o mestre Kishikawa, as palavras do vovô guerreiro provam que o método funciona. “Incentivamos a troca de experiências entre novos e velhos. Assim, acendemos a chama que naturalmente se apaga nessa fase da vida.” Praticante de jojutsu, técnica de luta com bastões de bambu, seu Matteo dá um aviso aos ladrões que levaram a suada féria do táxi. “Já me roubaram duas vezes. Agora, vai ser mais difícil”. Cuidado! Samurai a bordo.