Arte
Daniel Senise (Galeria Brito Cimino, São Paulo) – Há cinco anos, o artista plástico carioca Daniel Senise teve a grande idéia de fazer pintura abrindo mão dos pincéis. Ou seja, apenas afixando suas telas em assoalhos de madeira, que, pela ação de colas e tintas aplicadas na lona, transferem os detritos e as marcas de sua superfície para o tecido. Na atual série de nove trabalhos em grande formato, as manchas obtidas deram origem a estranhas paisagens cujos contornos foram reforçados pela colagem de tiras de tecidos mais escuros. O díptico Obra, por exemplo, exibe um emaranhado de madeira que remete à estrutura de palafitas ou andaimes. Água, por sua vez, mostra um cenário alagado com madeiras boiando e uma casa submersa. Marcados pela ação do tempo, os trabalhos de Senise comentam a tradição da pintura romântica de forma radicalmente moderna. (Ivan Claudio)

DVD
Viver a vida (Magnus Opus Collection) – Tudo é perfeito nessa obra-prima de Jean-Luc Godard, de 1962, um dos melhores títulos da chamada “Fase Anna Karina”, sua mulher na época. Rodado em preto-e-branco com esplêndida fotografia de Roaul Coutard, o filme desenvolve-se em 12 quadros à maneira brechtiana, como era comum naqueles tempos revolucionários da nouvelle vague. Quadro a quadro e de forma distanciada, assiste-se à via-crucis de Nana, uma vendedora de discos parisiense que acha mais fácil levar a vida como prostituta. Numa das grandes passagens, ela assiste ao clássico Joana D’Arc, de Dreyer. “Vendeu seu corpo, mas guardou pura a alma”, diz em determinado momento o narrador. É Godard em estado de graça. (Ivan Claudio)

Discos
Motomix (Cais do Porto, Porto Alegre, dia 27 de
agosto; Clube Mourisco, Rio de Janeiro, 1º de setembro; Espaço das Américas, São Paulo, 3 de setembro) – Nesta edição, o festival faz um pequeno recorte do que há de mais moderno na música francesa. Da geração French Touch – nome dado ao primeiro time da música eletrônica do país, como Air e Daft Punk – foram escalados o projeto Super Discount 2, dos produtores Alex Gopher e Etienne de Crecy, que já remixaram hits do grupo alemão Kraftwerk e do americano Moby. O último já teve lançado por aqui o ótimo CD Tempovision, trilha sonora de pistas descoladas. Da fervida noite parisiense também vêm a dupla The Youngsters e o DJ Alex Kid, já conhecidos dos paulistanos. Inédita é a presença de MC Solaar, o mais globalizado dos rappers franceses. Do lado brasileiro, o balanço fica por conta do produtor Bid e do DJ Soul Slinger. (Dolores Orosco)