Quem houve falar em hipnose e só se lembra de Mandrake, o mágico dos quadrinhos, e de David Copperfield, o ilusionista-marqueteiro americano, precisa rever seus conceitos. Praticando o hipnotismo há 25 anos, o psicólogo e psiquiatra paranaense Rui Fernando Cruz Sampaio, 48 anos, já ajudou a polícia a elucidar mais de 600 crimes, de atropelamentos a estupros, assaltos e homicídios. Há quatro anos à frente do Laboratório de Hipnose Forense do Instituto de Criminalística do Paraná, único na América Latina, Sampaio recebe diariamente ofícios de delegados, promotores e juízes para que hipnotize vítimas e testemunhas de crimes que sofreram amnésia parcial ou total decorrente do trauma sofrido.

“Enfrentei alguma descrença no início, mas a eficácia da técnica garantiu sua credibilidade. Mostrei que a hipnose de palco é uma coisa e a científica é outra bem diferente”, conta Sampaio. Para mostrar a importância do uso forense da hipnose – utilizada desde a antiguidade, mas para muitos ainda sinônimo de magia e charlatanismo –, ele vai lançar um livro contando casos como o da dona de um pensionato que, dois anos depois de ter visto o assassino, conseguiu ter sua memória regredida até a data do crime e fazer um retrato falado. O criminoso foi preso. Em Ponta Grossa (PR), dois adolescentes que testemunharam um atropelamento lembraram, após a hipnose, a cor e a marca do carro usado na fuga da cena do crime: um Ômega azul.