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Desde a década de 1960, a Igreja Católica enfrenta a chamada crise das vocações, com o declínio anual no número de padres em todo o mundo. A proliferação de novas religiões, as dissidências internas e a incongruência entre as mudanças na sociedade e a permanência das proibições aos sacerdotes – como o celibato – são alguns dos fatores que levaram ao esvaziamento dos seminários. Se a queda ainda é uma realidade no mundo, nos últimos oito anos a situação se inverteu no Brasil. De acordo com o Anuário Católico, divulgado pelo Centro de Estatísticas e Investigações Sociais (Ceris) e realizado pela Promocat, houve um aumento de 22,6% no número de presbíteros de 2000 a 2008 (leia quadro).

O crescimento é atribuído a movimentos como a Renovação Carismática Católica e à associação da carreira religiosa às causas sociais. Além disso, o acesso ao seminário também foi ampliado aos que descobriram a vocação tardiamente. "Atualmente, os padres podem iniciar os estudos a partir dos 20 anos", analisa o padre José Oscar Beozzo, da Diocese de São Paulo. A segurança dos mais jovens em relação à vocação religiosa surpreendeu o cineasta José Joffily, durante as gravações do documentário "O Chamado de Deus", que narra a trajetória de seminaristas brasileiros entre 16 e 20 anos. "Hoje a base do engajamento religioso é o desejo pela mudança social", afirma o diretor.

Foi a vontade de transformar a comunidade de Guaxupé, em Minas Gerais, que levou João Paulo Ribeiro, 19 anos, do Seminário Diocesano São José, a optar pelo sacerdócio. "Quero me aproximar da realidade das pessoas", diz. A escolha ocorreu aos oito anos e sem nenhum temor às restrições da vida religiosa. "Sigo para onde a Igreja me levar", afirma o rapaz, que entrou para o seminário aos 13 anos.

Em contraste ao fervor da fé masculina, as mulheres estão se afastando. No início da década de 90, existiam 37 mil religiosas no País. Em 2008, as freiras não passavam de 33 mil. "A proibição da ordenação restringe o interesse feminino pelo sacerdócio", avalia o padre Beozzo. Apesar do aumento de presbíteros, esse número ainda precisa crescer para atrair mais fiéis. O ideal é um padre para cada mil pessoas. Mas os dados revelam a proporção de um sacerdote para nove mil habitantes no País.

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