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PARCERIA Bergé (à esq.) e Saint Laurent: juntos em casa e nos negócios

É impossível pensar em moda e não lembrar de Yves Saint Laurent. Tampouco dá para falar do estilista sem citar seu companheiro, Pierre Bergé, figura das mais atuantes no mundo das artes na França, hoje com 79 anos. Herdeiro de Saint Laurent, morto em agosto do ano passado, aos 72 anos, Bergé ganhou as manchetes do mundo no início deste ano ao levar a leilão a vasta coleção de móveis, objetos de arte e antiguidades do casal. Na operação, realizada no Grand Palais de Paris, embolsou 206 milhões de euros (R$ 574 milhões). Companheiro e sócio de Saint Laurent por 50 anos, o francês é o guardião de todo o legado do estilista, um dos grandes mestres da alta-costura de todos os tempos. Ele preside a Fundação Yves Saint Laurent- Pierre Bergé, fundada pela dupla em 2002, quando o artista pendurou prancheta e tesoura e se aposentou como estilista. É lá que cuida de todos os arquivos, croquis, modelos e desfiles assinados por Saint Laurent desde 1962. Além disso, organiza exposições em todo o mundo, como a mostra "Yves Saint Laurent – Viagens Extraordinárias", que desembarca no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, na terça-feira 26.

Com curadoria de Bergé, que é esperado para a abertura, a mostra reunirá 50 figurinos completos de coleções inspiradas na Espanha, África, Índia, Ásia, Rússia e no Marrocos. As criações do estilista serão apresentadas por meio de croquis, manequins e vídeos. Um deles, de 2002, relembra o último e monumental desfile realizado no Centro Pompidou, em Paris. Com a presença de top models do calibre de Eva Herzigova, Naomi Campbell e Carla Bruni (a atual primeira-dama francesa desfilou com uma enorme capa amarela), o show reuniu na mesma passarela as grandes obras do artista ao longo de 40 anos.

O curioso é que Saint Laurent não gostava de viajar e se inspirou nos países que retratou em suas coleções por meio de pesquisas realizadas dentro de quatro paredes. "As melhores viagens da vida dele aconteceram com ele sentado no sofá de casa, com um livro nas mãos", revelou Bergé à ISTOÉ. Cartões de felicitações de fim de ano, feitos pelo próprio Saint Laurent para amigos e clientes especiais, também serão expostos, gigantescos, em 2 m x 3 m.

O casal se conheceu em 1958. Na época, Bergé, que trabalhou com teatro, cinema e dança e presidiu a Opera Bastille entre os anos 80 e 90, nada entendia de moda e até achava o ofício uma arte menor. Ao longo dos anos, no entanto, se tornou o maior entusiasta do companheiro e um grande facilitador de seus negócios. "Ele foi o maior estilista da segunda metade do século XX", diz Bergé. "Deu poder às mulheres e criou um guarda-roupa moderno para elas." Saint Laurent demonstrou inclinação para a moda desde cedo. Aos 15 anos, por exemplo, fez os figurinos para um balé de sua cidade natal, Oran, na Argélia, na época ocupada pela França. O primeiro emprego foi na maison francesa Christian Dior. Seus croquis encantaram Dior de tal maneira que ele foi contratado como assistente de modelista imediatamente depois da entrevista, em junho de 1955. Com a morte do mestre, foi indicado seu sucessor. Na maison francesa, permaneceu até 1960, quando foi convocado para prestar serviço militar. Nessa época, enfrentou um dos momentos mais difíceis de sua vida. "Yves era um homem muito frágil", conta Bergé. "Três semanas depois de ser convocado pelo Exército, teve um surto."

Era o primeiro de muitos. Maníaco- depressivo, o grande artista teve o apoio incondicional de Bergé ao longo dos anos em que permaneceram juntos. "Era normal para mim ajudálo a atravessar suas depressões", disse. "Ele era o meu parceiro, eu tinha de fazer isso." Ao se recuperar da primeira baixa, que o dispensou do serviço militar, o estilista se uniu ao companheiro em sociedade na fundação da maison Yves Saint Laureant, em 1961. Daí para a frente, é história. Saint Laurent consagrou-se, entre outras razões, por resgatar peças do guardaroupa masculino e adaptá-las, com maestria, para o universo da mulher.

Em 1966, apresentou o primeiro smoking feminino na coleção Pop Art, inspirada em Andy Warhol e Roy Lichtenstein. Se hoje é normal elas usarem terno e calça comprida, antes dele era proibido entrar em restaurantes e hotéis com o traje. Embaixador da Unesco e ativista na luta contra a Aids, Bergé continua sonhando os mesmos sonhos que tinha com Saint Laurent. Anunciou que doará os milhões arrecadados com o leilão do Grand Palais à filantropia.

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MARROCOS
O país africano foi tema em quatro coleções

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COBRAS
Cartão de boas festas de 1973, para amigos e clientes

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ESPANHA
Figurino da coleção verão de 1977 do estilista