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TERRAS GELADAS O Canadá é um dos novos endereços do vinho

Um dos maiores vilões do planeta, o aquecimento global tem sido benéfico para a viticultura mundial. As temperaturas mais quentes ampliaram as áreas cultiváveis e ajudaram a melhorar alguns tipos de uvas. Agora, com o auxílio da tecnologia, será possível prever o futuro dos vinhedos. Com a ajuda de um software, o climatologista Gregory Jones, da Universidade de Southern Oregon, nos Estados Unidos, conseguiu mapear 27 das principais regiões produtoras de vinho e avaliou que 18 terão aumento de temperatura nos próximos 50 anos. "Na média, a elevação será de 1,3ºC", disse Jones à ISTOÉ.

Esse movimento está em curso. Jones estima que, nos últimos 50 anos, a faixa geográfica favorável à viticultura moveu-se até 240 quilômetros no sentido dos polos. Como resultado, países frios, como Canadá, Dinamarca e Suécia, antes impróprios para o cultivo da uva, entraram no mapa. A Suécia, por exemplo, colheu sua primeira safra em 2002.

Para lidar com o clima mais quente, serão necessárias adaptações nos vinhedos tradicionais, como trocar uvas sensíveis ao calor, a exemplo da Tempranillo ou da Pinot Noir, pela Cabernet Sauvignon, que é mais resistente. "Isso está acontecendo em especial na Espanha, Itália, Austrália e na Califórnia, nos Estados Unidos", diz Jones. O teor alcoólico mais elevado também é consequência das temperaturas mais altas. "Antigamente, as uvas quase não amadureciam. Os vinhos eram mais ácidos e refinados em fruta, estilo e equilíbrio", afirma o pesquisador.

No Novo Mundo, o plantio das uvas também está sendo adaptado. "Com radiação solar intensa, nas novas plantações mudamos a orientação das fileiras para diminuir a exposição ao sol", diz Felipe Tosso, enólogochefe da chilena Viña Ventisquero. Para o enólogo Acari Amorim, produtor na região de São Joaquim, em Santa Catarina, as mudanças climáticas são até bem-vindas. "Melhora nossa qualidade, porque acaba o problema das geadas tardias", diz o sócio da Quinta das Neves, que cultiva cepas como Chardonnay e Pinot Noir, colhidas antes da geada. Para os enófilos, venha então o aquecimento global.

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