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DISSEMINAÇÃO Material referente ao nazismo foi recolhido com jovens gaúchos

Após ISTOÉ revelar na reportagem “Os nazistas brasileiros”, publicada na edição passada, como estão estruturados os dois maiores grupos de neonazistas do Brasil, que têm conexões até no Exterior, a Polícia Civil de Porto Alegre estourou uma célula gaúcha da facção mais radical dos seguidores de Hitler. Eles estariam planejando um ataque com bombas a sinagogas em quatro Estados. A operação, realizada na segundafeira 18, concluiu que dez envolvidos teriam recebido instruções para fabricar explosivos e outros 30 teriam passado por treinamento armado. Segundo a polícia, eles se preparavam para comprar metralhadoras da Argentina. A investigação também aponta que o movimento comandado pelo administrador paulista Ricardo Barollo (ao qual o grupo do Sul pertence) – que está preso e é acusado de mandar matar um casal no Paraná devido a uma disputa de poder – seria responsável por outros dez assassinatos ocorridos nos últimos dois meses. No Rio Grande do Sul foram apreendidos mais de 300 itens, entre fotos, DVDs, livros, roupas com a suástica, facas e três bombas caseiras em Porto Alegre, Viamão, Cachoeirinha e outras duas cidades na região serrana. Não houve prisões porque uma possível ameaça não configura crime.

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O que preocupa as autoridades é a mudança de atitude dos grupos. Até então, eles apenas propagavam os ideais de Hitler. “Agora, estão cometendo crimes e partindo para o enfrentamento, indo além da teoria”, diz o delegado Paulo César Jardim. Passeatas gays também seriam alvos de atentados. Neonazistas presos anteriormente pela polícia gaúcha confessaram que a ideia é praticar atos terroristas contra negros, judeus, nordestinos e punks. O delegado diz ainda que os jovens estão fazendo cursos de informática pagos pelas facções como um meio de integrá-los aos grupos. Nos próximos meses, acontecerá o primeiro julgamento de neonazistas no Brasil. Os 14 acusados vão a júri popular em Porto Alegre pelo ataque de 5 de maio de 2005 a judeus que comemoravam os 60 anos do fim do Holocausto. Na ocasião, uma pessoa foi esfaqueada e outras sofreram agressões físicas. Os acusados responderão por formação de quadrilha, corrupção de menores, tentativa de homicídio e apologia ao nazismo.

A reportagem de ISTOÉ mostrou detalhes do funcionamento de grupos neonazistas, como o projeto megalomaníaco de um país batizado Neuland (nova terra, em alemão), idealizado por Barollo. Sua intenção era começar uma nação separatista reunindo os Estados do Sul e São Paulo até conquistar o território de 22 países da Europa. O objetivo era lutar pelo fim da miscigenação. Barollo é apontado como o mandante do crime que tirou a vida do mineiro Bernardo Dayrell, 24 anos, e de sua namorada, Renata Waechter, 21, na madrugada de 21 de abril no município paranaense de Campina Grande do Sul. Barollo e Dayrell eram líderes dos dois maiores grupos nazistas brasileiros. Barollo e outros cinco acusados de participar do crime estão presos no Paraná.