No Brasil, onde autoridades de Estado têm sempre que andar às voltas com parrudos guarda-costas, é impensável a prosaica situação em que a ministra das Relações Exteriores da Suécia, Anna Lindh, se encontrava quando foi morta a facadas por um desconhecido na tarde da quarta-feira 10. Lindh estava fazendo compras em uma loja de departamentos no centro de Estocolmo, como é usual na Suécia, sem nenhum tipo de segurança ou proteção especial – apenas o primeiro-ministro, Göran Persson, e o rei Carl XVI Gustaf têm cuidados especiais com a segurança. O crime chocou a população e aconteceu apenas quatro dias antes do plebiscito que decidirá se a Suécia irá ou não adotar o euro como moeda corrente. Lindh era uma fervorosa defensora da plena integração entre os países europeus e fez maciça campanha para convencer a população a votar a favor da adoção da moeda única européia.

Levada às pressas ao Karolinska Hospital de Estocolmo, Lindh passou por mais de dez horas de cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na quinta-feira 11. O crime estarreceu a nação escandinava, pouco acostumada à violência urbana. As motivações do atentado são desconhecidas e a polícia não tinha pistas do assassino até sexta-feira 12. Com as bandeiras do Riksdag (Parlamento) a meio mastro, os suecos reviveram a consternação e o espanto do assassinato do primeiro-ministro Olof Palme, em 1986. Assim como Lindh, Palme não tinha nenhum tipo de proteção especial e foi assassinado com um tiro nas costas quando voltava de um cinema a poucos quarteirões da loja em que agora foi esfaqueada a ministra. As razões do assassinato de Palme nunca foram esclarecidas, nem se descobriu o autor do crime. “O povo sueco não aceitará outro fracasso”, disse o arquiteto Lars Melin.

Desde 1998 à frente do Ministério das Relações Exteriores, a social-democrata Anna Lindh desfrutava de grande popularidade. Havia especulações de que ela poderia ser a sucessora de Persson. Como ministra, Lindh comprou a briga da adoção do euro em substituição à coroa sueca. Antes de sua morte, as pesquisas indicavam uma razoável margem, que variava de nove a 12 pontos, de vantagem para a rejeição ao euro. Agora, a questão é como a morte de Lindh influenciará no plebiscito – que foi mantido para o domingo 14. “Normalmente, em um plebiscito, as pessoas decidem na base da reflexão e de muita informação. Agora, a escolha da população será totalmente diferente”, disse o cientista político Peter Esaiasson para o Financial Times. A Suécia, junto com o Reino Unido e a Dinamarca, são as únicas nações da União Européia que não adotaram o euro.


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