A polêmica das cotas para negros no ensino superior ainda não encontrou um lugar de discussão em São Paulo. Nem nas próprias universidades. Mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) parece ter encontrado um paliativo para acalmar as reivindicações do movimento negro. Depois de receber uma comitiva de ONGs, liderada pela Afrobras, o governo decidiu, em novembro próximo – mês da consciência negra – afagar os que lutam pela causa no Estado com
o lançamento de um pacote de ações afirmativas. Entre outras medidas, deve estar a de incentivar o empresariado paulista a criar programas sociais. A idéia é fazer com que as empresas que promovam a inclusão
do negro tenham preferência nas licitações do governo.

Do secretário de Educação, Gabriel Chalita, Alckmin obteve a promessa de qualificar os 200 mil professores da rede estadual para o ensino da história e da cultura do povo africano. Por pressão de ONGs como a Afrobras, Chalita está realizando um censo entre os 25 mil bolsistas do Escola da Família – que têm 50% da mensalidade bancada pelo governo
e os outros 50% pelas próprias faculdades. Ele quer saber quantos negros são beneficiados pelo programa. A promessa é a seguinte: se houver menos de 20% de negros entre os bolsistas, a cota será instituída. Em 2004, serão custeados 50 mil alunos.

Do ponto de vista das ONGs, seria um passo importante. Mas Chalita diz que estuda a possibilidade de adotar o critério da raça apenas em caso de empate entre candidatos com rendas iguais e, mesmo assim, sem caráter obrigatório. “O Escola da Família hoje tem critério de poder aquisitivo. Para mim, esta é a maior forma de inclusão das pessoas que estão fora da universidade. Acho que provisoriamente, quando se sente que aquela política afirmativa não acontece, a cota pode ajudar”, diz.
O secretário compartilha da mesma opinião do ministro da Educação, Cristovam Buarque. Em diversas ocasiões, o ministro afirmou que a cota deve ter caráter apenas emergencial: “Ela não é em si uma ação social, pois irá beneficiar somente a classe média negra.”

José Vicente, presidente da Afrobras, aponta os dados do IBGE para
dizer que a adoção das cotas para os 50 mil bolsistas do governo
paulista só traria benefícios: entre os 15,5% dos negros que concluem
o ensino médio, apenas 2,3% se tornam universitários. Na USP, a maior do País, são pouco mais de 500 entre seus 40 mil estudantes de graduação, segundo um censo realizado pela própria universidade. As porcentagens são ínfimas se comparadas ao tamanho da população negra brasileira (45%). “Ou seja, seriam dez mil alunos negros a mais no ensino superior de São Paulo. É um aumento gritante”, afirma José Vicente, que no ano que vem será reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, cujo principal objetivo é a inclusão do negro. A Zumbi fará seu primeiro vestibular no final deste ano e está entre as 190 faculdades inscritas para abrigar os bolsistas do governo. “O Brasil é o segundo país do mundo em população negra, só perde para a Nigéria. Não dá mais para ignorar isso”, conclui José Vicente.