Encravada no alto do bairro do Morumbi, em São Paulo, a nova casa do banqueiro Edemar Cid Ferreira está saindo à sua imagem e semelhança. Para alcançar seu ideal de perfeição, nenhum esforço é poupado. Foi assim com a piscina, que estava pronta quando ele se encantou com outra, no aristocrático Mandarin Oriental Hotel, em Londres. Voltou para São Paulo convencido de que merecia o mesmo glamour. Embarcou de novo para Londres, levando o arquiteto Ruy Ohtake para conhecer o seu objeto de desejo, que tem agregado uma espécie de “spa” aquático. Dias depois, para surpresa dos 390 peões que labutavam na obra, a piscina paulistana foi refeita. É por essas e outras que a casa provoca espanto. Com fachada de concreto em grandes curvas revestidas de pedra francesa, a construção de 4.100 metros quadrados se espalha por cinco pavimentos. Ainda está em fase de acabamento, mas já consumiu R$ 50 milhões.

Grande colecionador de arte, o dono do Banco Santos ficou famoso
pelos megaeventos que organiza, como a mostra dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, e por trazer ao País preciosidades como
os milenares guerreiros de terracota da província chinesa de Xi’an. Acostumado a lidar com o que há de bom e de melhor, Cid Ferreira
já vivia em alto estilo numa casa de traçado clássico, com cerca
de 800 metros quadrados, quando passou a comprar e demolir propriedades vizinhas. De três anos para cá, uma das prioridades
de sua atribulada agenda é acompanhar cada detalhe da obra que
seus assessores mais próximos batizaram de “embaixada das artes”.
O projeto da edificação é de Ruy Ohtake, mas os interiores estão encomendados a outro arquiteto renomado, o americano Peter
Marino, conhecido por fazer lojas Armani e Chanel.

Cristal líquido – Instalada na extremidade esquerda de um quarteirão inclinado, a casa é indevassável para quem passa pela rua Gália, onde fica a entrada principal. Em compensação, tem a fachada leste recortada por imensas paredes de vidro e prolongada por jardins suspensos, o que permite uma vista deslumbrante da cidade. Para quem está dentro, a sensação é de que tem São Paulo a seus pés. Com nove metros de pé direito, o pavimento térreo abrigará duas imensas galerias de arte e uma biblioteca que alcança até o mezanino. A estimativa é de que apenas a galeria principal possa abrigar 250 pessoas, com muito conforto. O restante do pavimento está ocupado por terraços, salas de jantar, de almoço, copa e cozinha.

As grandes festas acontecerão na cobertura, onde espelhos d’água brotam no piso mais do que exclusivo – as pastilhas italianas receberam um desenho do paisagista Burle Marx (1909-1994). Para deleite dos convidados, o heliponto terá um teto retrátil. É tudo tão magnífico que os raros mortais com acesso à obra costumam dizer que a cobertura tem vista de 360 graus. Exagero. Não chega a tanto, embora se possa bisbilhotar, da face oeste, um dos santuários mais preservados do Brasil: a mansão de 130 cômodos de Joseph Safra, o dono do Banco Safra, outro grande colecionador de arte. Safra detesta publicidade e jamais abriu as portas de seu palácio para a sociedade. Cid Ferreira, por sua vez, mantém sua obra longe da mídia apenas pela estratégia de causar mais impacto. Sua assessoria já tem um planejamento detalhado de divulgação da empreitada.

Mas, como Safra, o dono do Banco Santos projetou sua casa em cinco andares. Entre o térreo e a cobertura fica a ala íntima de Cid Ferreira, destinada a acolher apenas a si próprio, a mulher, Márcia, e os dois filhos do casal. É evidente que cada um tem sua própria suíte e closet, sendo que há uma sala entre as suítes do casal. Pelas dimensões dos closets, dá para imaginar o resto: só o dela tem 43,5 metros quadrados. Outro detalhe interessante são os banheiros, construídos em vidro de cristal líquido, ou seja, totalmente transparentes até o momento em que o usuário aciona um mecanismo que os torna impenetráveis ao olhar.

Para cuidar do corpo com o mesmo carinho que cuida da alma, Cid Ferreira tem no primeiro andar abaixo do nível da rua uma minivila olímpica. Da piscina à Mandarin – de onde poderá assistir a três imensos telões –, à academia de ginástica e sauna, tudo estará à sua disposição. O andar inferior não chega a ser tão interessante, embora seja fundamental para o funcionamento de toda essa estrutura. Lá ficam as garagens, caldeira, lavanderia, suítes de empregados e um escritório.

É óbvio que o banqueiro não usará o escritório ao lado da garagem. O seu fica na reluzente sede do Banco Santos, do outro lado do rio Pinheiros, de onde Cid Ferreira visualiza sua morada sem dificuldade. O escritório ao lado da garagem será ocupado pela empresa que está sendo montada só para administrar a propriedade. Sim, porque não há dona-de-casa que aguente tanta trabalheira. Antes mesmo da inauguração, a nova casa está atraindo visitantes de todos os tipos. Há dez anos no ramo do churrasquinho na brasa, o baiano Josenildo Pereira dos Santos foi alertado sobre a obra por um amigo que carrega entulhos. Não vacilou
em trocar seu ponto na rodovia Raposo Tavares por uma pracinha na vizinhança de Cid Ferreira. Logo no primeiro dia, vendeu 50 churrasquinhos, a R$ 1 cada. “A hora que a bóia tiver ruim, a peãozada vai baixar aqui e vou faturar ainda mais”, sonha o churrasqueiro. “Um dia também levanto o meu barraco.”