Os olhos arregalados, a língua solta entre os dentes meio separados e um jeito de criança fazem do atendente de lanchonete Bob Esponja – desenho animado da Nickelodeon – um sujeito especial. Criada para crianças, a esponja falante que vive em um abacaxi no fundo do mar foi adotada como mascote por vários adultos. Nos Estados Unidos, conquistou audiência de gente grande e fez com que a Nickelodeon encaixasse o programa em horários noturnos.
De acordo com uma pesquisa do instituto Nielsen Media Research, 22% da audiência do desenho entre americanos é de pessoas entre 18 e 49 anos. No Brasil, não há uma pesquisa específica, mas os exemplos pipocam por aí e deixam claro: Bob Esponja é um sucesso entre
pessoas de todas as idades.

O mecânico paulista Wagner de Paula Ramon, 26 anos, é um exemplo. Quando assistiu ao desenho pela primeira vez, há um ano e meio, achou interessante ver na tevê uma esponja que falava. Em pouco tempo, estava tomado pelo patético charme da animação. “Chamou minha atenção o fato de os personagens viverem situações absurdas, como tomar banho em pleno fundo do mar.” Fã de cartoons, com preferência pelos nada infantis Os Simpsons e South Park, Wagner, no trabalho, era motivo de chacota entre os colegas, particularmente por gostar da esponja falante. “Meu boneco estava jurado de morte… meus amigos queriam furá-lo”, conta, referindo-se a um inflável que comprou no sinal por R$ 15. “Mas, no fim, o pessoal acabou gostando do Bob Esponja.”

Nem mesmo a censura dos colegas impediu Wagner de calcar adesivos
do desenho, que acompanham o sorvete do Bob Esponja, em algumas prateleiras da oficina onde trabalha. Sua devoção tem um pouco a
ver com o fato de o personagem viver situações cotidianas. Bob é um anti-herói, com um emprego para lá de comum e adora seu patrão, o pão-duro “Siriquejo”. Seu passatempo predileto é caçar águas-vivas.
O vizinho, Lula Molusco, é um ser mal-humorado, que reclama de
tudo. E Bob Esponja ainda tem um bom humor alienante e não
enxerga maldade em nada.

Essas características também conquistaram a estudante Luíza Grandes, 17 anos, de São Paulo, que não vê entre seus amigos de escola se repetir, com o desenho do Bob Esponja, o sucesso de outros desenhos, como aconteceu com as Meninas Super-Poderosas. Mas Luíza defende a teoria de que o bizarro boneco pode cativar um público extenso. “Ele é muito bonitinho. Até minha mãe gosta dele.” O carinho da garota pelo desenho contagiou seu namorado, que aderiu às sessões vespertinas e até lhe deu, de presente de aniversário, um boneco do Bob Esponja de pano. Em relação à popularidade do personagem, Luíza tem razão: o desenho vem conquistando público. Segundo a Nickelodeon, ele teve a maior audiência, entre programas do canal, em junho deste ano. E, em breve, Bob Esponja vai ganhar mais campo de trabalho. A MTV Network, empresa que mantém o Nickelodeon, já está rodando um longa-metragem do personagem, sem previsão de lançamento. Sorte dos adultos que tiverem filhos. Por que os fãs vão ter de se assumir, dando as caras nas filas dos cinemas.