Cai a noite e as estrelas se multiplicam. A sinfonia noturna alterna o coaxar dos sapos com a estridência dos grilos. Até os turbulentos adolescentes americanos, na faixa de 17 e 18 anos, se entregam à contemplação. Descansam após um dia de longa caminhada pela maior floresta tropical do mundo, no Estado do Amazonas. As cinco garotas e os dois rapazes, vindos de cidades como Nova York e Washington, participaram do programa piloto Outdoor Adventure (aventura ao ar livre), promovido pela American Field Service, a mais antiga agência de intercâmbio cultural do mundo, fundada em 1947. A agência, que oferece pacotes também para o Pantanal e o Nordeste, acaba de ampliar seus serviços aos brasileiros. Agora os nativos poderão conhecer a Amazônia na companhia de guias bilíngues, desembolsando R$ 3,5 mil por dez dias de aventura.

O ponto alto da viagem são os cinco dias a bordo de um rústico barco em que os viajantes dormem em redes e presenciam o encontro das águas do rio Negro com o Amazonas. É uma curiosa química em que
a água do Negro, escura por causa das nascentes carboníferas e dos ácidos que se desprendem das folhas decompostas, não se mistura à água barrenta do Amazonas.

Antes de sair em campo, os estudantes visitaram o Teatro Amazonas, em Manaus, e aprenderam com o guia guianense Michael Kartworight,
53 anos, que a paisagem tropical foi diferente no passado. O que hoje
é uma frondosa floresta, foi um grande lago há 65 milhões de anos. Tal origem gerou a maior variedade de aves, peixes, borboletas, papagaios, roedores, morcegos e primatas do planeta e reúne a maior concentração de tribos indígenas do mundo: são 65 etnias e 41 grupos isolados que não aceitam contato com o homem branco.

O relato fascinou Dominique Cohen-Johnson, uma nova-iorquina de 17 anos. “Todos falavam na escola que os brasileiros estavam destruindo
a Amazônia e suas plantas medicinais, mas pude ver que não é assim”, constatou, após as incursões pelas florestas. Mesmo depois dos avisos de seu médico alertando que poderia se infectar com malária ou febre amarela, Catlyn Fulton, 17 anos, de Washington, não se intimidou. “Cheguei a pensar em ir para a África, mas me decidi pelo Brasil por causa da Amazônia. Quero estudar meio ambiente”, diz.

O guia Michael parou muitas vezes
para mostrar algumas espécies de uso medicinal, como o benguê, planta que alivia dores musculares, patenteada pelos europeus. Os brasileiros tiveram de criar nomes alternativos para usá-la sem pagar royalties. Muitas ONGs mandam pesquisadores para as tribos indígenas, que se aproximam dos pajés, aprendem suas fórmulas, colhem exemplares, levam para seus países e patenteiam.

O passeio terminou com uma visita à comunidade ribeirinha Nossa Senhora
do Perpétuo, onde os adolescentes conheceram os índios barés da aldeia Terra Preta, estabelecidos perto do arquipélago das Anavilhanas. Foi ali que os estrangeiros e tripulantes do barco enfrentaram os índios em uma partida de futebol. Ao ver a louríssima Catlyn – jogadora de futebol, chamado de soccer nos Estados Unidos – cheia de fôlego na marcação dos nativos, o cacique Gabriel Aleixo disparou: “Parece um sonho.” Certamente para ambos.