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PREVENÇÃO
A vacinação gerou suspeita infundada sobre a origem da doença respiratória

O rigor no cumprimento da rotina palaciana teve de ser posto um pouco de lado pela presidente Dilma Rousseff nas duas últimas semanas. Desde o retorno de uma viagem à China, em 17 de abril, Dilma já reclamava de cansaço, indisposição, dores no corpo e exibia uma aparência abatida, sintomas típicos de um resfriado que pioravam dia a dia. Na quinta-feira 28, o médico particular de Dilma, Roberto Kalil Filho, foi informado pelo médico da Presidência, Cleber Ferreira, que ela tinha um foco de pneumonia no pulmão esquerdo. Kalil disse a Dilma para repousar na sexta-feira e voltou a falar com ela no sábado 30, por telefone. “A presidente me disse que ainda não se sentia bem e aconselhei-a a vir a São Paulo para fazer exames”, contou Kalil. No domingo 1o, após uma bateria de exames no Sírio-Libanês, o diagnóstico acabou confirmado. A doença foi considerada de intensidade “leve”, mas os médicos – além de Kalil, o infectologista David Uip – receitaram um combinado de dois antibióticos, substituindo outro que ela já estava tomando, para ser ministrado durante dez dias. E recomendaram repouso.

O cardiologista antecipou um check-up que estava agendado havia dois meses para acompanhamento da saúde da presidente. Como Dilma foi tratada de um tumor linfático em 2009, o roteiro adequado para uma avaliação periódica da sua saúde prevê também exames de seguimento do câncer. “Os resultados dos exames dela foram todos bons, exceto pela pneumonia. A presidente é basicamente uma pessoa saudável”, afirmou Kalil.

A pneumonia de Dilma reacendeu a preocupação do País com a saúde presidencial. No fim da semana passada, a Secretaria de Comunicação da Presidência apressou-se em desmentir os boatos de que a presidente tivesse retomado o tratamento quimioterápico. Em 2009, Dilma foi tratada no Hospital Sírio-Libanês de um câncer linfático na axila esquerda. Ela foi operada e retirou um tumor de 2,5 centímetros. A cirurgia foi seguida de quimioterapia. Quatro meses depois do início do tratamento, em abril, Dilma anunciou que estava livre do câncer. Em termos médicos, isso quer dizer que não havia mais evidência da doença no organismo.

Depois dos exames da semana passada, sob orientação médica, Dilma reduziu o ritmo de atividades na Presidência. “Na volta a Brasília, disse à presidente para trabalhar de forma autolimitada. Isso quer dizer sem exageros a ponto de se cansar”, explicou o médico. Na segunda-feira 25, cinco dias antes do diagnóstico da pneumonia, Dilma tomou a vacina contra a gripe no Palácio do Planalto com o intuito de estimular as pessoas a aderirem à Campanha Nacional de Vacinação. Isso acabaria gerando especulações infundadas sobre a relação entre a vacina e a posterior doença (leia quadro), o que preocupou o Ministério da Saúde. Entre os dias 25 e 29, a presidente cancelou presença em eventos e reuniões para descansar. Confirmada a doença, a presidente tomou a decisão de deixar as salas geladas pelo ar-condicionado do Planalto e passou a despachar no Alvorada, residência oficial do governo, considerado um ambiente mais aconchegante.

Na terça-feira 3, apesar de ter sido orientada pelos médicos a descansar, a presidente despachou com quatro ministros. Pela manhã, reuniu-se no Palácio da Alvorada com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para discutir a formatação do Plano Nacional de Segurança Pública. Recebeu ainda o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, responsável por negociar com o Congresso a votação do Código Florestal. À tarde, Dilma esteve com os ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência. Na quarta-feira 4, ela manteve a toada. Recebeu os ministros Antônio Palocci, da Casa Civil, Guido Mantega, da Fazenda, Luiz Sérgio, de Relações Institucionais, e Miriam Belchior, do Planejamento. Aos interlocutores, a presidente disse que estava se sentindo mais bem-disposta e animada. “Vocês sabem, eu sou dura na queda”, chegou a brincar.

A porta de entrada da pneumonia no organismo são as vias respiratórias. É uma infecção ocorrida no pulmão que provoca uma inflamação dos alvéolos. O tipo mais comum é causado pela bactéria pneumococo, embora microorganismos como o meningococo e um Haemophilus influenzae possam levar à doença. Todos esses micro-organismos são transmissíveis pelo ar e por contato direto entre as pessoas. Sempre que sintomas intensos da gripe, como febre alta, fraqueza e mal-estar perduram por mais de três dias, os especialistas começam a suspeitar que um Pneumococo está se aproveitando da situação para se instalar no organismo. “A participação da gripe ou outras infecções respiratórias é prejudicial às defesas imunológicas, facilitando a entrada do pneumococo ou outras bactérias e vírus no organismo já debilitado”, explica o infectologista Celso Granato, chefe do setor de virologia da Universidade Federal de São Paulo. A origem da pneumonia de Dilma ainda é desconhecida. O infectologista David Uip pediu exames para determinar o agente. Será feita uma sorologia para identificar anticorpos específicos para cada tipo de bactéria. Os resultados sairão nesta semana.

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