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Retrato presumidode Costa (abaixo), homem de destaque na Ouro Preto
colonial: membro da elite e amasiado com uma escrava alforriada

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Sobre o poeta mineiro Cláudio Manuel da Costa (1729 -1789 ), sabe-se que foi um dos maiores homens das letras de Vila Rica, atual Ouro Preto – o historiador e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, o qualificou de “chefe de orquestra da plêiade dos bardos locais” que incluía Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Formado na Universidade de Coimbra, o autor de “Obras” e do poema épico “Vila Rica” foi também um dos advogados mais requisitados da capitania das Minas Gerais, onde esteve ligado à alta administração. Costa, contudo, entrou para a história pela via do infortúnio, como um dos inconfidentes que lutaram contra o jugo português, vindo a morrer em circunstâncias até hoje não esclarecidas, após delatar os companheiros – a hipótese mais aceita é a do suicídio. Essa é a figura pública de Cláudio Manuel da Costa, o membro da elite colonial, merecedor de títulos na metrópole e notório proprietário de terras (inclusive para mineiração) e de escravos – ele teve uma relação de vida inteira com uma negra alforriada que lhe deu cinco filhos. Sua biografia, contudo, é formada de lacunas. As feições são apenas presumidas e pouco se conhece de sua vida pessoal, agora merecedora de um notável esforço de reconstituição no livro “Cláudio Manuel da Costa” (Companhia das Letras), da professora de história da Universidade de São Paulo Laura de Mello e Souza.

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“Minha hipótese é de que ele se matou porque não suportou
o fato de ter delatado os seus melhores amigos inconfidentes”

Laura de Mello e Souza, historiadora

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Estudiosa do século XVIII em Minas Gerais por três décadas e meia, Laura passou a pesquisar a vida de Costa a partir de 1988. Há três anos, assumiu o desafio de escrever a atual biografia, que traz como trunfo a revelação de alguns documentos nunca consultados, como o inventário do pai do poeta, guardado na Casa Setecentista de Mariana, e os pedidos, depositados na Torre do Tombo, em Portugal, que seus dois irmãos, também estudantes em Coimbra, fizeram à Coroa para obter títulos de nobreza, as chamadas mercês reais. “São revelações completamente inéditas e ajudam a iluminar a vida de Costa”, explica Laura. Para se obter a honraria “hábito de Cristo”, por exemplo, era preciso provar a inexistência de trabalhadores braçais entre os antepassados, o que revelaria a genealogia do suplicante. Outro avanço na biografia é a compreensão da personalidade do escritor como um homem dividido entre a sofisticação da metrópole e o lado bárbaro da colônia, dilaceramento que se aprofunda com a volta de Costa para o Brasil. Laura identifica no poeta um sentimento de “desterro na própria terra” expresso em versos como “Onde estou? Este sítio eu desconheço:/ Quem fez tão diferente aquele prado?/ Tudo outra natureza tem tomado,/ E, em contemplá-lo tímido, esmoreço.”  

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