Pode-se dizer muita coisa do ministro dos Transportes, Anderson Adauto (PL-MG), menos que ele dê as costas aos amigos. Nos primeiros dias do governo trouxe para Brasília dois fiéis parceiros de Uberaba (MG): Sérgio José de Souza e Rômulo Figueiredo. Eles foram obrigados a pedir o boné depois das denúncias de irregularidades envolvendo a empresa da dupla – CPA – e a prefeitura de Iturama, um dos redutos eleitorais do ministro. Em junho, o ex-diretor financeiro do Departamento de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), Sérgio Pimentel, acusou o ministro de ter privilegiado o pagamento da empreiteira Queiroz Galvão e, para isso, teria utilizado outro leal companheiro: Lauro Guimarães Corrêa, gerente de orçamento e finanças do Dnit e candidato a vice-prefeito na chapa de Adauto em Uberaba. Recentemente, mais um aliado com emprego no ministério – Afonso Guimarães Neto, casado com uma prima do ministro – começou a ser investigado sob a suspeita de cobrança de propinas.

Em 2 de julho deste ano, o site de notícias do Ministério dos Transportes exibia uma notícia corriqueira sobre obras em rodovias: a pavimentação de um trecho de 35 quilômetros da BR 262, entre os municípios de Campo Florido e o entroncamento com a BR 153, próximo a Uberaba. O que a agência de informações oficial não diz é o que norteou a decisão de priorizar este pequeno trecho da 262 – uma estratégica rodovia de 2.295 quilômetros que liga Vitória (ES) a Corumbá (MT). A pavimentação vai beneficiar a Usina Coruripe de açúcar e álcool, cuja filial em Campo Florido está a 25 quilômetros do pedaço de estrada contemplado com investimentos públicos de R$ 7 milhões. A Usina Coruripe foi a maior financiadora individual da campanha de Anderson Adauto à Câmara. A Coruripe contribuiu com R$ 123 mil na campanha, conforme declaração feita ao Tribunal Superior Eleitoral. “Esta é a obra mais reivindicada da região e entrou num pacote acertado com o governo de Minas”, justifica o ministro. “A situação em Minas é caótica. É a pior malha rodoviária do País”, diz o secretário de Transportes do Estado, Agostinho Patrus.

A mão dupla do ministro com os usineiros da Coruripe é antiga. Em seu site pessoal – andersonadauto.hpg.ig. com.br/governo –, narra como levou a usina para sua região eleitoral em maio de 2002 e também os incentivos que ele aprovou como deputado estadual para que empresas, como a Coruripe, fossem ressarcidas nos investimentos feitos em infra-estrutura. O material publicitário produzido pelo gabinete de Adauto para a campanha de 2002 também exibe várias fotos dele com os usineiros da Coruripe, que tem sua matriz em Alagoas. A usina é uma conhecida cliente do governo federal. Ano passado recebeu R$ 1,2 milhão da Petrobras em nome da equalização de preços do álcool e este ano figurou no topo dos devedores do INSS. A empresa deve R$ 32,7 milhões.

Depois dos usineiros, Adauto foi quem mais contribuiu para a própria campanha. Ele desembolsou R$ 39 mil para pavimentar seu desembarque em Brasília. Quando explodiram as denúncias de irregularidades na Prefeitura de Iturama, Adauto disse a ISTOÉ que vive da política.
Ele presidiu a Assembléia mineira por dois anos (1999-2001), quando
o salário dos deputados atingiu até R$ 60 mil mensais, e entre a
eleição de 1998 e a última, seus bens foram multiplicados por 20.
Em 1998, segundo a declaração obrigatória à Justiça Eleitoral, Adauto apresentou um patrimônio modesto: R$ 56,2 mil. Os bens se referiam
a oito carros, maioria de médios com mais de dois anos de uso; sete linhas telefônicas em Uberaba e Belo Horizonte, além de pequenos
valores em ações e títulos de clubes recreativos. Em quatro anos
Adauto prosperou. O Imposto de Renda de 2002 mostra um patrimônio que beira o primeiro milhão: R$ 935,6 mil. São sociedades em apartamentos, uma fazenda em Campo Florido, aplicações
financeiras e uma frota de automóveis importados.