A aprovação do relatório da CPI do Senado e a proposta de uma nova legislação para o futebol foram os grandes acontecimentos do ano. Daqui para a frente, o futebol nunca mais será o mesmo. Pela nova legislação, que deverá ser oficializada por meio de medida provisória, o futebol passará a ser uma atividade comercial como outra qualquer. Dirigentes serão fiscalizados por conselhos de clube, federações e pela Justiça comum. Não poderia ser diferente. O futebol é uma entidade privada, mas de interesse público. Os 17 indiciados pela CPI do Senado deveriam tentar provar inocência fora de seus cargos. Precisam sair antes de ser julgados, porque perderam a credibilidade e a legitimidade. Será preciso acabar com a política de troca de favores, nepotismo, coronelismo e com o hábito de gastar mais do que se arrecada. As mudanças não serão somente de nomes, mas também de idéias.

Qual será o novo caminho? A união dos clubes com as empresas não deu certo. Os investidores não entenderam a paixão do futebol. Só pensam nos lucros, em revelar e vender jogadores. Não é isso que deseja o torcedor. Ele quer um excelente time. Para isso, além de bons jogadores, é preciso planejamento, continuidade e bom conjunto. Essas foram as principais qualidades das melhores equipes do Campeonato Brasileiro. Para se unir às empresas, os clubes exigiram que os dirigentes amadores continuassem no poder. Isso e a mudança na Lei Pelé espantaram os investidores. Pela nova lei, é proibido que as empresas tenham mais de 50% das ações de um clube e participem de dois clubes.

É preciso encontrar outra solução. A mais viável é os clubes se profissionalizarem e passarem a ser dirigidos como empresas. Unir paixão e lucro. Não é fácil. Para isso, será necessário substituir dirigentes amadores por executivos remunerados, de preferência com história no esporte. Ex-atletas que têm esse desejo deveriam se preparar. É o que faz o Sócrates, provável futuro candidato à presidência da CBF. Essa mudança já começou. Bebeto de Freitas, que teve uma espetacular trajetória no esporte como atleta e técnico, fez um belíssimo trabalho no Atlético-MG. Certamente vai mudar a cara do Botafogo. O futebol brasileiro vai precisar de muitos Bebetos.

O futebol brasileiro precisa mudar também dentro de campo. Os times que mais se destacaram em 2001 jogaram um futebol alegre e ofensivo e com muita habilidade. Só que o modelo do Felipão não é esse, mas sim o da Seleção de 94, como ele diz. A equipe dirigida pelo Parreira era organizada, tinha Romário, mereceu o título. Mas o futebol mudou de lá para cá. A postura tática da Seleção de 94 – recuar, atrair o adversário e contra-atacar – começou na Copa de 1982. Após a derrota da brilhante equipe comandada por Telê para os pragmáticos italianos, todos passaram a jogar no estilo defensivo da Itália. O futebol ficou feio, chato, improdutivo. Ninguém arriscava. A insossa final do Mundial de 94 refletiu bem esse momento.

Depois que a vitória passou a valer três pontos, os times, progressivamente, ficaram mais ofensivos. Por causa dos treinadores, o futebol brasileiro foi um dos últimos a perceber a transformação. É pouco provável que aconteçam grandes mudanças dentro e fora de campo até o Mundial. Dá até para ganhar com time, técnico e dirigentes atuais, já que num torneio curto nem sempre vence o melhor. Mas não dará para encantar e brilhar.