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MÁRTIR
Vargas Llosa (acima) recupera a história do irlandês Roger Casement, que lutou pelos direitos humanos

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"O Sonho de Celta” (Alfaguara) é o primeiro livro lançado pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa após receber o prêmio Nobel de Literatura, no ano passado. O título repete o nome de um poema escrito pelo irlandês Roger David Casement (1864-1916), protagonista dessa biografia romanceada de quase 400 páginas. Casement perdeu a mãe aos 9 anos e o pai, quando estava com 12. Foi educado por tios e, aos 15 anos, mandado para Liverpool, na Inglaterra, para trabalhar. Aí é que, realmente, sua vida começa. Em empregos públicos, acabou tendo a oportunidade de participar de uma missão à África a serviço da Inglaterra e pôde, assim, testemunhar as atrocidades que eram cometidas por companhias que diziam estar levando o progresso para o continente, quando, na verdade, escravizavam, roubavam, torturavam, abusavam e matavam o povo.

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Casement denunciou tudo o que viu e foi pioneiro na defesa dos direitos humanos — algo totalmente desconhecido na época. Sua luta foi reconhecida, ele foi condecorado, tornou-se cônsul inglês em vários países, inclusive no Brasil, onde apontou algozes de tribos indígenas travestidos em exploradores de borracha. Mas, entre a Irlanda e a Inglaterra preferiu defender sua pátria, e associou-se à Alemanha para isso. Derrotado e capturado, foi considerado traidor da coroa britânica e condenado à forca. Quase escapou da morte por força da pressão de intelectuais. Porém, a polícia inglesa descobriu, em sua casa, um diário no qual relatava relações sexuais que tivera com homens, e o enxovalhou publicamente. As chances de revisão da pena foram sepultadas ali. Antes de colocarem as cordas em seu pescoço, lhe perguntaram se gostaria de dizer alguma coisa. Ele disse que não, mas balbuciou: “Irlanda.” O livro de Vargas Llosa é uma das chances que a história tem de rever os méritos deste grande homem.