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DISCIPLINA
José Mayer se exercita com a partitura: aulas de canto duas vezes por semana

Com uma barba de patriarca e roupas simples de um homem pobre, o galã José Mayer poderia surpreender o público que se acostumou a vê-lo em seus papéis televisivos nas novelas do horário nobre, quando sempre interpreta conquistadores, muito bem-vestidos. No espetáculo “Um Violinista no Telhado”, musical assinado pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, que estreia no dia 20, no Rio de Janeiro, a plateia será presenteada com outra novidade: o ator também sabe cantar – e bem, segundo aqueles que já o presenciaram soltando a voz. “Ele é um cantor que estava no armário”, diz Botelho, também autor das versões em português das canções do musical, que reserva a Mayer o papel de protagonista. O ator é Tevye, um leiteiro de maneiras um tanto rústicas, que vive com a mulher e cinco filhas em um vilarejo judeu em plena Rússia czarista, no início do século passado. Enquanto a cidadezinha enfrenta ataques antissemitas, Tevye se vê às voltas com um problema mais prosaico: suas três filhas mais velhas se rebelam contra os casamentos arranjados para elas. Nada que o impeça de entoar belas canções.

Apesar de estar demonstrando ser uma revelação aos 61 anos, Mayer vem se exercitando no canto há algum tempo. A primeira vez que o fez em cena foi em “No Verão de 1996…”, sob a direção de Aderbal Freire-Filho. Na peça “Um Boêmio no Céu”, sobre o compositor Catulo da Paixão Cearense, autor de “Luar do Sertão”, ele voltou a mostrar seus dotes de intérprete. Agora faz a sua estreia “oficial” numa superprodução que reúne 43 atores, 160 figurinos de época e cenografia grandiosa. “Além da magnitude, essa produção se enquadra no filão legitimamente musical que é o de espetáculos da Broadway”, diz o ator. Com pequena experiência no gênero, ele sabe que a maioria do seu público o identifica pelos trabalhos no cinema e, principalmente, na televisão – e isso torna o seu desempenho uma atração a mais. Foi também o que se deu com a mais recente montagem americana de “Um Violinista no Telhado”, por exemplo, que teve como protagonista o ator Alfred Molina, famoso por papéis em blockbusters como “O Homem Aranha”.

Com 43 anos de carreira, José Mayer se sentiu atraído pelos musicais aos poucos: “Como todo brasileiro, quando viajava para Nova York, eu ia à Broadway. Sempre gostei, mas nunca fui um fã especialmente entusiasmado.” Ele confessa que não conhecia “Um Violinista no Telhado” até ser convidado para atuar na peça, no ano passado. O namoro, porém, é mais antigo. Em 2002, alguém soprou para Claudio Botelho que Mayer sabia cantar. Na época, o diretor e seu parceiro Möeller tentavam trazer para o País o musical “Follies”. “Liguei meio na cara de pau e fiz a proposta. Ele apareceu para uma audição informal e começou a cantar. Eu pensei: Esse cara canta demais”, lembra Botelho. A versão brasileira de “Follies”, no entanto, acabou não saindo do papel. Aconteceram outras tentativas de parceria, mas as agendas da dupla e do ator não casavam. Só até agora.

Além da voz preparada por aulas de canto, praticadas duas vezes por semana, Mayer domina com facilidade as notações musicais – ele sabe ler partitura e tocar piano. E tem sido rápido na incorporação dos truques exibidos pelos atores mais tarimbados. “Sempre estamos trocando dicas, exercícios e experiências. O Zé tem uma entrega e uma dedicação sem tamanho”, afirma Ada Chaseliov, que interpreta Yentl, a casamenteira do vilarejo. A poucos dias da estreia, o ator já domina completamente a habilidade de passar do texto falado para o cantado sem perder a fluência. “Outra coisa que ele aprendeu foi a não tirar o ouvido da música, que muitas vezes toca quando o texto é falado. Nessas horas, fala e música andam de mãos dadas”, diz a pianista Zaida Valentim, que acompanha Mayer nos ensaios. “Devo muito do que tenho aprendido a ela”, afirma Mayer, com a humildade de um estreante.

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