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Filha mais nova de família que se originou com os mineiros ingleses que deverá se sagrar rainha da Inglaterra: a imprensa britânica destaca constantemente o maravilhoso destino de Kate Middleton, elevada à alta sociedade por seu casamento no dia 29 de abril com o príncipe William. "Os Middleton são muito interessantes porque apresentam um exemplo de mobilidade social através de gerações, em um país obcecado pelas classes sociais", considera Diane Reay, socióloga da Universidade de Cambridge.

Em três gerações, os Middleton conseguiram uma ascensão fulgurante, em um país onde essa mobilidade é mais difícil do que na Europa continental, segundo a pesquisadora. As raízes da futura princesa remetem à Inglaterra proletária. Por parte de mãe, o bisavô Thomas Harrison fez a escolha decisiva de deixar as minas de carvão do norte da Inglaterra para tentar a sorte em Londres. Na família do pai, seus membros ascenderam na classe média nascente do século XIX: fabricantes de tecidos, mercadores, funcionários de cartório, bancários e, por fim, o avô piloto.

Os pais de Kate eram funcionário em terra e aeromoça da British Airways antes de fazerem fortuna com sua empresa de material para festas infantis, a Party Pieces. Ao contrário do que fazem os membros da "upper class", como lembra a imprensa, que persegue impiedosamente todos os sinais de pertencimento à classe média, a mãe, Carole, teria surpreendido ao pedir "toaletes" na festa. A palavra toaletes está entre os sete "pecados capitais" definidos pela antropóloga Kate Fox ("Watching the English", "Observando os ingleses", tradução livre) que mostram que uma pessoa é da "middle class".

Mas não houve tropeços com relação a Kate, criada nas melhores escolas da ‘Upper class". Isso porque, quando se tornaram milionários, os Middleton fizeram a escolha decisiva de enviar seus três filhos para o Marlborough College, uma escola particular, onde estudou também a esposa do primeiro-ministro, Samantha Cameron.

"É o que o sistema de escolas particulares representa aqui, ao contrário de outros países europeus, a classe e o privilégio", explica Diane Reay. Apenas 7% dos britânicos frequentam as escolas particulares, mas 70% dos membros do governo saíram delas. Para Diane Reay, "hoje, como no início do século XIX, aqueles que deixam as escolas particulares ocupam as camadas superiores da sociedade, com postos na cultura, na política, na justiça, nos negócios".

Uma pesquisa realizada no ano passado mostra que "mais de 50% das pessoas acham que os conflitos de classes estão mais fortes do que nunca", analisa Diane Reay. "As pessoas têm a sensação de que é preciso lutar para manter sua posição", e "há muita angústia social na classe média", disse. Não sem razão, já que de 25 a 30% dos diplomados da universidade occupam um posto abaixo de suas competências, lembra ela. "Os Middleton foram muito bem sucedidos socialmente. Hoje, isso seria muito mais difícil", considerou.

Excursões

Da primeira residência de seus pais até a igreja onde foi batizada, passando pelo ‘pub’ habitual da família – um circuito turístico propõe descobrir a região onde cresceu Kate Middleton, uma viagem da época dos romances de Jane Austen. Aproveitando-se do filão representado pelo casamento de Kate Middleton com o príncipe William, uma companhia de ônibus do condado de Berkshire (sul da Inglaterra) organizou uma excursão de algumas horas para explorar a região natal da futura princesa.

A menos de uma hora de estrada a oeste de Londres, 30 passageiros – quase todos jornalistas estrangeiros – da expedição descobrem uma Inglaterra de cartão postal. "Atravessamos uma Inglaterra medieval", comenta a guia, Charmian Griffiths, enquanto o ônibus circula por estradas estreitas cercadas de campos e bosques. A poucos quilômetros do castelo de Windsor, a paisagem parece ter parado no tempo, como descreviam os românticos do começo do século XIX.

"É uma comunidade ainda muito agrícola marcada pelo gado equino", destaca a senhora Griffiths com um tom apaixonado. "Mas é uma pena porque, ao que parece, Kate é alérgica a cavalos", acrescenta, despertando imediatamente o interesse de seus ouvintes que esperam uma primeira incursão na intimidade dos Middleton. A decepção é imediata. A senhora Griffiths apenas "leu em algum lugar".

Os vizinhos dos heróis do momento parecem preocupados em proteger sua vida privada. Numa rua de Bradfield, a aldeia onde fica a igreja onde Kate foi batizada, uma professora os descreve prudentemente como "pessoas normais" que vivem "numa aldeia tranquila". Um pouco mais além, atrás de pitorescas casas cheias de flores, ergue-se orgulhoso "The Old Boot Inn", o pub de Stanford Dingley, frequentado pelos Middleton.

Os visitantes recebem uma orientação estrita antes de entrar: "não façam perguntas sobre os Middleton" a John Haley, o dono, convidado para o casamento. Mas Haley, visivelmente encantado com sua recente notoriedade, está totalmente disposto a conversar com jornalistas vindos de todo o mundo. "Como poderia esperar algo assim?", pergunta, mostrando seu convite, um enorme cartão com os emblemas reais.

É certo que Kate esteve no pub "há dois ou três finaiss de semana". Mas Haley diz que não é muito próximo da família, o que não o impediu de ser convidado, como o açougueiro, o carteiro. Um gesto digno de uma burguesia provinciana tradicional, como destaca a imprensa britânica. Chega-se ao ponto culminante da excursão: a residência dos Middleton na aldeia de Bucklebury, surgindo, também, a oportunidade de lançar um rápido olhar da beira da estrada através de algumas árvores, por sorte, sem as folhas. A falta de algo melhor, a guia faz circular una foto da casa, uma ampla residência burguesa de tijolos.