Desde pequeno, Pedro sabia que era diferente de todo mundo.

Na escola, era o mais alto de todos seus colegas, que faziam graça de suas longas pernas e braços. Magrinho como era, o apelidaram de “Pedro Palito”.  Nenhuma menina queria namorar com ele pois era meio desengonçado.

A vida de Pedro não era fácil. Quando saía da escola ia direto para  casa, pois precisava ajudar seu pai no campo. Embora não fossem pobres, a família de Pedro dependia do que plantavam e das poucas vacas e galinhas que tinham para sobreviver.

O pai dele, quando olhava aquele menino esguio e sem jeito com a foice, pensava consigo mesmo: “Pobre menino! Vai sofrer muito quando tiver que trabalhar no campo em tempo integral.”

O tempo passou e Pedro virou um jovem. Embora ainda fosse magro, o trabalho no campo havia lhe deixado mais forte. Como tinha poucos amigos, ele havia decidido há muito tempo mergulhar no estudo e, como consequência, foi a primeira pessoa na história de sua família a conseguir uma bolsa de estudo para a faculdade.  E, com isso, Pedro saiu do sertão e foi para a cidade grande.

Chegando na faculdade, sugeriram que fizesse basquete. Afinal, com mais de 2 metros de altura, ele deveria se dar muito bem no esporte. Porém, logo nos primeiros treinos, ficou claro que ele e a bola não iam se entender. O técnico do time chegou a comentar com um amigo que nunca tinha visto alguém tão desengonçado segurar uma bola de basquete.  Com mais esta desilusão, Pedro teve certeza era diferente de todo mundo voltou a mergulhar nos livros.

O verão chegou e, como não tinha muito dinheiro, decidiu ficar na cidade durante as férias e trabalhar como servente na faculdade. Os dias eram de calor insuportável, e aquele uniforme azul escuro parecia pegar fogo quando saía para limpar os pátios.

Um belo dia, no qual a faculdade parecia ser a filial do Inferno (tão grande era o calor) Pedro estava passando pela piscina quando não resistiu. Tirou a camisa do uniforme de servente, os sapatos e se jogou na piscina gelada da escola. Dentro d’agua, se lembrou dos dias de verão no sertão, aonde a única diversão que tinha era o açude, raso e cheio de peixes, aonde se lavava.

Naquele momento, ele sentiu um mixto de angústia e raiva. Porque eu não poderia ser uma pessoa normal? A angústia foi aumentando e, quase sem perceber, saiu nadando. Cruzou a piscina uma vez, duas, três. A cada vez que cruzava tinha mais angústia, mais raiva de tudo que não estava certo em sua vida.

Ali, entre uma cruzada e outra da piscina, encontrou sua paz. Notou que o mundo embaixo d’agua era só dele. Que não tinha que escutar ninguém, nem falar. Bastava dar braçadas e bater as pernas para sentir que estava indo para algum lugar. Pela primeira vez em sua vida, sabia que estava no lugar certo.

E, em seguida, se lembrou que estava no lugar errado! Ele deveria era estar limpando os pátios. Quando chegou a beira da piscina, pulou d’agua e correu para pegar suas roupas. Estava se vestindo quando ouviu alguém lhe chamar: “Ei rapaz, o que está fazendo?”. “Pronto” pensou, “Logo na primeira vez que me divirto fazendo algo na vida, vou perder meu emprego”. “Venha cá”, lhe falou o senhor, que vestia uniforme da equipe atlética da faculdade.

Pedro caminhou em sua direção, já pensando em que desculpa ia dar para evitar a perda do emprego. Ao chegar perto, o homem, em tom muito sério, lhe perguntou: “Hoje vim aqui buscar um material que precisava para uma competição da escola, e me deparei com você na piscina, cruzando que nem um maluco de um lado para o outro. O senhor sabe o que ababa de fazer?”. Pedro gelou. Pelo visto tinha feito algo muito mais grave do que achava. Maldita hora que foi pular na piscina. Deveria ter ficado na dele e passado calor. Agora ia perder tudo que tinha conquistado por um simples gesto idiota e de impulso. “Não senhor, não sei”.  E com isso se encolheu, pronto para receber o sermão que merceria receber.

“Jovem. Sou técnico do time de natação há quinze anos. E nunca vi nada igual!” Pedro já estava pensando como ia falar para seus pais que perdeu a bolsa, quando o técnico disse “Você acaba de bater de longe todos os recordes desta piscina. Nunca vi nada igual! Em que equipe você está treinando?” Por um segundo, seus ouvidos tiveram dificuldade em entender o que estava escutando. “Desculpe senhor, mas não entendi”. “Então deixe-me explicar. Quando cheguei aqui e lhe vi nadando, achei que estava apenas se refrescando de um dia de muito calor. Mas depois de alguns minutos, notei que estava cruzando a piscina muito rápido e decidi lhe cronometrar. Parabéns. Você acaba de entrar para o time de natação da faculdade.”

Pedro aceitou a proposta de entrar no time e foi responsável por levar o nome da escola e de seu País as Olimpíadas. Tirou duas medalhas de ouro e uma de prata, e voltou para casa como herói nacional. Quando se aposentou e virou técnico da seleção, confirmou o que sempre soube:  era diferente de todo mundo.

E você, já encontrou sua “piscina”?