Na sala principal de muitas empresas, o ano de 2004, o segundo do governo Lula, começa a ser desenhado. “Ou você decola, ou afunda”, diz o diretor Carlos Stuchi, da Air Liquide Brasil, subsidiária da multinacional francesa líder mundial na produção de gases industriais e medicinais, segunda no Brasil depois da White Martins. E não são poucas as empresas que estão decididas – como a Air Liquide – a decolar. Ela acaba de se instalar em um dos prédios mais modernos de São Paulo, depois de mais de 50 anos estabelecida no bairro do Ipiranga. Investiu R$ 1 milhão só na obra, mas não vai parar por aí. A perspectiva para 2004 é de investir mais do que em 2003, diante da perspectiva de um crescimento acentuado na siderurgia. Para quem não sabe, o aço depende de algum tipo de oxigênio e esse é um dos produtos principais da Air Liquide, que atua também no setor medicinal. Assim, os planos de ampliação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), além da empresa chinesa que está aterrissando no Pará, permitem à Air Liquide antever 2004 com entusiasmo, com um crescimento de pelo menos o dobro do PIB, o Produto Interno Bruto. O grupo Air Liquide é um fornecedor global de gases industriais e medicinais e de serviços correlatos. Fundado em 1902, está em mais de 65 países, contando com 125 filiais e cerca de 30.800 empregados.

“Empresário é sempre otimista”, diz Josué Gomes da Silva, que dirige a Coteminas, uma potência na área têxtil que faturou R$ 70 milhões no primeiro semestre (no ano passado, o faturamento da empresa foi de
R$ 600 milhões, sendo 50% em exportações). Josué, filho do vice-presidente da República, José Alencar – ele usa apenas os dois prenomes –, passaria apertos neste ano não fossem as exportações de roupas de cama, banho e camisetas, entre outros produtos, para Estados Unidos e Europa. Com 11 unidades industriais, ele não hesita em prever que 2004 será melhor e que os investimentos serão mantidos, assim como o número de empregos pode aumentar de 12 mil para 12.300.

Emprego? Pode procurar na Casas Bahia. No ano que vem a rede
vai abrir 25 lojas em várias cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. O investimento – explica Michel Klein, diretor administrativo financeiro – sairá parcialmente do lucro de 2003, estimado em R$ 60 milhões. A rede mais ousada do varejo planeja chegar a 400 lojas em 2005, a partir das 350 atuais.

Estrangeiros – Grandes empresas dizem que acham cedo para tomar alguma decisão para 2004. “Só vamos pensar nisso em outubro”, dizem. Acredite se quiser. O economista Fernando Ribeiro, da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), diz que seguramente os investimentos dessas empresas – que representam 60% entre as 500 maiores – vão aumentar de US$ 9 bilhões em 2003 para US$ 15 bilhões em 2004, aproximando-se dos US$ 16,6 bilhões de 2001. Aí se destaca a Coca-Cola, maior empresa de bebidas não-alcoólicas do Brasil e do mundo. O presidente da empresa no Brasil, Brian Smith, anunciou um investimento de R$ 550 milhões para 2004. Na avaliação de Smith, no último trimestre do ano a economia
do Brasil começará a dar sinais mais consistentes de recuperação, resultado das últimas medidas da política econômica adotadas pelo governo. “Por isso estamos otimistas para 2004”, disse ele em sua primeira visita oficial ao presidente Lula.

Haja dinheiro para a Yamaha Brasil continuar a duplicação da fábrica de motos em Manaus. O setor nunca vendeu tanto como neste ano. Até agora um milhão de motos. Os investimentos já foram autorizados pela matriz japonesa e chegam a US$ 66 milhões, dos quais a metade veio em 2003 e a outra metade virá em 2004. “É claro que esperamos uma arrancada nas vendas a partir do ano que vem”, diz Aurélio Maranha, diretor de vendas da empresa. O aumento da capacidade de 150 mil unidades/ano para 300 mil a partir de 2004 já repercutiu no número de empregados: no final de 2002 a empresa tinha 1.488 empregados. Hoje são 1.563 e a tendência, segundo Maranha, é de continuar aumentando o número de empregos em 15% ao ano. As vendas de motos Yamaha vêm crescendo cerca de 30% ao ano, enquanto o mercado de motocicletas cresce 18%. Esse foi o principal motivo para o investimento na duplicação da fábrica de Manaus.

Sem euforia – O País está longe de um boom de euforia, é bom que se diga. “Mas pode pensar para 2004 em uma economia de volta aos níveis normais, com a indústria voltando a investir e produzir”, diz Ernani Antunes Araújo, presidente da Anfreixo, empresa com mais de 60 anos que em 2002 vendeu 80% de seu capital à Votorantim Ventures, braço de investimentos do grupo Votorantim. A empresa, fornecedora de peças e ferramentas industriais, vai investir R$ 8,5 milhões em 2004, mais do que o dobro dos investimentos deste ano. O dinheiro será aplicado na expansão dos negócios, com a abertura de filiais nas principais cidades
do País. O faturamento em 2003 deve chegar a R$ 40 milhões, mas para 2004 a meta é alcançar mais do que o dobro: R$ 90 milhões, além da contratação de 200 novos empregados. Há um ano eram 28, hoje são 115. “Com a extensão do crédito e os juros em patamares menores, o País volta a andar”, diz Antunes Araújo, presidente da empresa e neto
do fundador, Antunes Freixo.

Enquanto as operadoras de telecomunicações devem investir este
ano e em 2004 cerca de R$ 3,3 bilhões na contratação de fornecedores
para a construção, expansão, manutenção e operação de redes (as operadoras de celulares têm R$ 1 bilhão para investir este ano e ao
longo do próximo), a Tekside, segunda maior fundição do País, pretende concluir um aumento de 40% em sua capacidade de produção na fábrica em Betim, Minas Gerais, em meados de 2004, passando de 175 mil toneladas de peças para 245 mil toneladas. Também em Minas,
a Iveco, fabricante de caminhões, aciona o plano de expansão de produção com uma nova fábrica ao lado da já existente em Sete
Lagoas. A nova fábrica começará a produzir em meados do próximo
ano. Outra fábrica vai surgir em Piracicaba, no interior de São Paulo,
em 2004, para produzir colheitadeiras.

Na avaliação de Guillermo Perry, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe (Bird), o Brasil deve crescer 1,5% neste ano e 3% “ou mais” em 2004. Quer participar desse crescimento a Samsung Eletrônica da Amazônia, que obteve no dia 2 autorização do Conselho Administrativo da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para voltar a produzir televisores de 14 e de 20 polegadas. O projeto prevê investimentos de US$ 26,1 milhões e, segundo a assessoria de imprensa da Suframa, deve agregar 60 novos empregados aos 800 que a empresa já tem em Manaus. A Suframa também aprovou dois novos projetos de fabricação de aparelhos de DVD com capital estrangeiro, o da Proview (China) e o da Flextronics (Estados Unidos). A Proview, que tem três fábricas de monitores para computadores na China e uma no Brasil, vai investir US$ 6,2 milhões para produzir os aparelhos em Manaus. A americana Flextronics Internacional da Amazônia anunciou que investirá US$ 4,7 milhões também na fabricação dos aparelhos de DVDs. Dois outros projetos aprovados da empresa americana representam mais US$ 8 milhões de investimentos e se destinam à produção de microondas e televisores. A Flextronics tem três centros de pesquisas nos Estados Unidos e um no Brasil, em Sorocaba, no interior de São Paulo. Na mesma reunião que liberou as fábricas de DVDs, a Suframa aprovou um total de 40 projetos, com investimentos que totalizam US$ 295,7 milhões. A expectativa é que gerem 1.916 empregos. É o começo do Brasil que será outro em quatro anos, como disse o ministro do Planejamento, Guido Mantega, ao comentar o futuro – se as metas do Plano Plurianual (2004-2007) do governo forem cumpridas – e anunciar investimentos da ordem de R$ 1,857 trilhão no período.