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"Processus de bois." Este é o tí­tulo de uma receita que vinha sendo procurada havia 350 anos por pesquisadores de todo o mundo e foi finalmente descoberta na biblioteca da Royal Society de Londres, instituição científica mais tradicional do mundo, inaugurada em 1660. É a fórmula da pedra filosofal, o elixir universal buscado incansavelmente pelos alquimistas no século XVII que, acreditava-se, teria o poder de transformar metais em ouro e curar doenças, como pedras nos rins e na vesícula. As responsáveis pela façanha são duas especialistas em história da ciência, Ana Maria Goldfarb e Márcia Ferraz, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Elas se depararam com o documento por acaso.

Durante a pesquisa, elas chegaram ao alquimista francês Du Bois (daí o título da fórmula), morto na Bastilha. Ele teria transformado chumbo em um metal dourado diante do rei Luís XIII. Crente de que teria uma fonte inesgotável de ouro, o rei exigiu uma cota semanal de Du Bois, que obviamente, não a entregou. Por isso foi enforcado. “Metade da Europa estava atrás da pedra filosofal e tudo era mantido a sete chaves, com trocas de informações codificadas”, conta Ana Maria.

Segundo ela, mais do que encontrar uma cópia rara da receita, a pesquisa revelou que o assunto era seriamente discutido na Royal Society, que abrigava cientistas do quilate de Newton. “Aqueles homens brilhantes acreditavam que Du Bois havia conseguido uma façanha”, completa Ana Maria, acrescentando que a técnica consistia em jogar “pó de projeção” (espécie de tintura) sobre o metal. Para Márcia, é importante restabelecer a importância da alquimia para o desenvolvimento da ciência, principalmente da medicina, pois as receitas tinham como principal objetivo curar doenças. “A sociedade acreditava que os alquimistas poderiam dissolver as pedras do organismo também e prolongar a vida”, diz.

As pesquisadoras encontraram rastros dos alquimistas na Royal Society porque não se satisfizeram com os catálogos online dos documentos. A receita da pedra filosofal foi descoberta quando elas tentavam identificar a caligrafia de uma outra fórmula, a de uma substância chamada alkahest, espécie de solvente universal que também serviria para acabar com os males das pedras. Não só descobriram que a letra era do secretário e um dos fundadores da sociedade, Henry Oldenburg, como se depararam com a fórmula secreta no verso de um papel no qual ele fez anotações pessoais – ele havia tido acesso aos escritos de Du Bois. Assim, o quebra-cabeça da história da ciência ganhou agora novas peças.

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