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FONTE A coletânea com a correspondência amorosa de pessoas célebres foi inspirada em livro que aparece em Sex and the city

"Antes de me levantar, meus pensamentos se apressam a ti, meu amor imortal! Ora alegre, ora triste, esperando do destino que ele nos ouça. Só posso viver ou completamente contigo, ou de nenhum outro modo. Sim, estou firmemente decidido a errar ao longe até que eu possa voar para teus braços e sentir que eles são meu lar, e mandar minha alma junto com a tua ao reino dos espíritos. Ai! Tem que ser assim!"

No filme Sex and the city, a protagonista Carrie, interpretada por Sarah Jessica Parker, folheia na cama o livro Cartas de amor de grandes homens – e escolhe uma, do compositor alemão Ludwig van Beethoven, para ler em voz alta. O texto era real, mas o livro, não. Uma ideia tão boa não podia ser desperdiçada. A cena vista por milhões de pessoas provocou uma corrida de editoras de todo o mundo interessadas em aproveitar a dica e lançar algo do gênero. Na Inglaterra, a editora Macmillan copiou, inclusive, o nome do livro que aparece no filme.

Também a coletânea Para sempre – 50 cartas de amor de todos os tempos (Globo, 168 págs., R$ 26), lançada no Brasil, teve Sex and the city como inspiração. "Até então, o que se tinha eram antologias de correspondências em geral, e, no meio delas, algumas de amor, ou livros de cartas românticas de um autor específico", diz Emerson Tin, professor das Faculdades de Campinas (Facamp) e organizador do livro.

Ele optou pela apresentação cronológica de cartas de 24 personalidades históricas ou de pessoas ligadas a elas. A relação de autores vai do filósofo, orador e político romano Cícero (106 a.C.-43 a.C.) ao poeta modernista russo Vladímir Maiakóvski (1893-1930), passando pelo imperador dom Pedro I, pelos compositores Frederic Chopin e Ludwig van Beethoven, pelo filósofo Voltaire e pelos escritores Victor Hugo, Franz Kafka, Fernando Pessoa e Olavo Bilac.

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Figuras conhecidas pelo rigor de suas ideias, como o jurista Rui Barbosa, expõem sua fragilidade e dependência nas relações amorosas. "Não, querida noiva, não te esqueças das tuas promessas tantas vezes reiteradas entre lágrimas. Não te esqueças de que és o anjo tutelar, a consoladora de teu noivo do coração", escreveu ele para Maria Augusta Viana Bandeira, em 1876.

A obra comprova o que já se sabe: em matéria de amor, todos são iguais. Os autores, como todos os mortais, demonstram ciúme, cobram atenção e fazem relatos da vida cotidiana. O escritor português Eça de Queirós, por exemplo, reclama do correio. "Estou receando que em vez de seguir a direito (…) ele flana pelas estradas (…), enquanto as pobres almas que ele devia fazer comunicar e que pagaram honradamente a sua estampilha para comunicarem, desesperam- se", escreveu para a noiva, Emília de Castro Pamplona. Já a esposa do samurai Kimura Shiguenari, morto em 1615 numa batalha durante o Cerco de Osaka, despede- se do marido num dos textos mais tocantes do livro, na opinião de seu organizador.

Prevendo que ele morreria lutando, ela decide se suicidar. "Ao perder toda e qualquer esperança de reencontrar-te nessa vida decidi-me pela morte enquanto ainda estiveres vivo, pois assim poderei te aguardar no que dizem ser a estrada da morte; essa que nos conduzirá para o outro mundo", escreveu a senhora Shiguenari.

 

Dramáticos ou pretensamente "durões" (como o escritor tcheco Franz Kafka, que primeiro liberou Felice Bauer da tarefa de responder a suas cartas, mas depois voltou atrás), os autores se diferenciam no linguajar, mas falam de sentimentos universais e atemporais.

Por isso, despertam até hoje muito interesse, como diz o professor da USP Renato Janine Ribeiro no prefácio do livro: "As páginas que se seguem são uma rara incursão na intimidade de escritores importantes, mas, mais que isso, de seres humanos, que exprimiam um sentimento que era – pelo menos naquele momento que durou – eterno."

Com a mudança dos hábitos, é provável que num futuro distante alguém organize uma obra paralela, porém com outro título, algo como "E-mails e torpedos de amor".

DE OLAVO BILAC A AMÉLIA DE OLIVEIRA

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"Amo-te, amo-te! Como é bom poder enfim dizer o que nos enchia o coração! Amo-te, amo-te, amo-te cegamente, loucamente, mais que a tudo! Amo-te porque és para mim a melhor, a mais pura, a mais santa de todas as criaturas. Amo-te, porque tu, meu orgulho e minha vida, foste a única mulher que me soube fazer conhecer toda a divina delícia, toda a suave tortura do verdadeiro amor."

DE FERNANDO PESSOA A OFÉLIA QUEIRÓS

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"Gosto muito – muito mesmo – da Ophelinha. Aprecio muito – muitíssimo – a sua índole e o seu caráter. Se casar, não casarei senão con ti go. Resta saber se o casamento, o lar (ou o que quer que lhe queiram chamar) são coisas que se coadunem com a minha vida de pensamento. Duvido. Por agora, e em breve, quero organizar essa vida de pensamento e de traba lho meu. Se não conseguir organizar, claro está que nunca sequer pensarei em pensar em casar."


DE VICTOR HUGO A ADÉLIA FOUCHER

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"Havia perdido, Adélia, o hábito da felicidade. Provei, ao ler teu bilhete bastante curto, toda a alegria da qual estive privado há quase um ano. A certeza de ser amado por ti me tirou violentamente da minha longa apatia. Estou quase feliz. Procuro expressões para te explicar minha felicidade, a ti que é a causa dela, e não as posso encontrar. En tretanto, tenho necessidade de te escrever."

DE DOM PEDRO I A DOMITÍLIA DE CASTRO CANTO E MELO, A MARQUESA DE SANTOS

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"Foi inexplicável o prazer que tive com as suas duas cartas. Tive arte de fazer saber a seu pai que estava pejada de mim (mas não lhe fale nisso) e assim persuadi-lo que a fosse buscar e a sua família, que não há de cá morrer de fome, muito especialmente o meu amor, por quem estou pronto a fazer sacrifícios. Aceite abraços, beijos e fo…"


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