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Vestidas de branco/ Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza/ até 4/7 OC UPAÇÃO NE LSON LEIRNER / Itaú Cultural, São Paulo/ 28/5 até 28/6

Se para as convenções da classe média carioca dos anos 1940 e 50 existiu um Nelson Rodrigues, para os rituais do cotidiano contemporâneo há um Nelson Leirner. O dramaturgo Nelson Rodrigues fez tragédias cariocas.

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PANTEÃO de ícone s Nelson Leirner faz a festa com Padre Cícero coroando bolo da noiva e embaralhando crenças, convenções e costumes brasileiros

O artista Nelson Leirner faz performances brasileiras. Escreveu o crítico Sábato Magaldi sobre Rodrigues: "nas tragédias cariocas fundem-se a realidade, frequentemente vinculada à zona norte do Rio, e o mundo interior dos personagens, com suas fantasias nutridas de mitos".

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Leirner, 77 anos, paulistano radicado no Rio de Janeiro desde 1997, faz sua crítica sobre o avanço da sociedade de consumo sobre os domínios da fé, do lazer, do erotismo. O inconsciente coletivo e os arquétipos populares povoam os universos dos dois autores, mas em Leirner mitos tão diversos quanto santos de gesso, brinquedos de plástico e suvenires turísticos co-habitam em harmonia.

Nas instalações de Leirner, a Vênus de Milo convive com a Yara, o Preto Velho, o Picachu, a Pombagira, o anão de jardim e o Super- Homem. Orquestrados pelo artista, eles atuam juntos em cortejos, marchas, desfiles, jogos de futebol, enterros e outras performances sociais.

Dessa vez, seu motivo de comentário é o casamento, tema da exposição Vestidas de branco, em cartaz no CCBNB-Fortaleza. A mostra reencena rituais e símbolos do casamento: da cerimônia religiosa à lua de mel e à maternidade. Os personagens, humanos com cabeça de macaco, afinam o tom desta comédia, com direito a um bolo decorado com bonecos do folclore brasileiro e coroado com um Padre Cícero no alto.

Felizmente, para a saúde e a vitalidade da arte contemporânea, Leirner não cessa de apontar sua metralhadora de ideias para as mais diversas facetas de nossa vida social e de nosso sistema de arte. A desmistificação da obra de arte foi seu gesto inaugural como artista, quando, em 1967, enviou um porco empalhado para o 4º Salão de Arte Moderna de Brasília, foi aceito e depois questionou a decisão do júri.

Em seguida, Leirner viria a se apropriar e "copiar" obras de Lucio Fontana, Marcel Duchamp e Leonardo da Vinci. Porco empalhado, Homenagem a Fontana e outras obras fundamentais da história da arte contemporânea brasileira estarão expostas no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, a partir de 28 de maio, ao lado de releituras propostas pelo próprio artista. A cópia e a reprodução viriam a se consagrar como seus grandes temas, até culminar nas atuais instalações produzidas com objetos produzidos em série.

ROTEIROS

Fotógrafos espelhados

Reflexio: imagem contemporânea na França/ santander cultural, Porto Alegre/ até 24/7

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Origem etimológica de "reflexão" e "reflexo", a palavra latina "reflexio" dá título a uma mostra que pretende refletir sobre a condição contemporânea da imagem a partir do trabalho de seis fotógrafos franceses. a mostra divide-se em três núcleos, que apontam para os modos como o corpo, a cidade e o cinema são enfocados pela fotografia. em cada módulo, há dois fotógrafos "espelhados" um ao outro, a partir dos critérios da curadora Ligia canongia.

Valérie Jouve (obra à dir.) e Jean Luc- Mouléne referem-se à cidade de forma quase documental. ela usa a fotografia para demarcar espaços e situações que trazem a "pulsação" caótica e fragmentada das metrópoles. ele, na série o túnel, fotografou recados escritos nas paredes de um túnel que liga Paris a um hospital psiquiátrico e imprimiu as fotos em páginas de um jornal, que pode ser levado pelo visitante. "Luc-Mouléne captura uma presença anônima. através da fotografia, isola e transforma o que passa despercebido pelo desgaste do cotidiano. É o resgate de um sujeito, mais do que o de um objeto", interpreta Ligia.


A ideia do "resgate do sujeito" também está nas obras de catherine rebois e de Patrick tosani, que enfatizam o corpo. catherine produz retratos recortados que não se encaixam perfeitamente. "Meu trabalho faz referência à loucura humana de querer tudo organizar, tudo racionalizar; essa incoerência de limitar para compreender", diz ela. tosani apresenta imagens que alteram a maneira de compreender o corpo, seja pela ausência física deste como nas fotografias de roupas no chão sobre poças d’água -, seja pela presença amplificada de detalhes – como na série Unhas.

 

Eric rondepierre e suzane Lafont (obra à esq.) mostram interesse em imagens criadas por outras mídias e pelo cinema. rondepierre trabalha sobre fotogramas e películas de cinema. suzane capta cenas reais nas quais pessoas anônimas comuns – às quais chama de "seus atores" – aparecem em momentos altamente expressivos. ao montar sequências de imagens, a artista cria uma narrativa ficcional a partir do cotidiano.

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Fernanda Assef

Felizmente, para a saúde e a vitalidade da arte contemporânea, Leirner não cessa de apontar sua metralhadora de ideias para as mais diversas facetas de nossa vida social e de nosso sistema de arte. A desmistificação da obra de arte foi seu gesto inaugural como artista, quando, em 1967, enviou um porco empalhado para o 4º Salão de Arte Moderna de Brasília, foi aceito e depois questionou a decisão do júri.

Em seguida, Leirner viria a se apropriar e "copiar" obras de Lucio Fontana, Marcel Duchamp e Leonardo da Vinci. Porco empalhado, Homenagem a Fontana e outras obras fundamentais da história da arte contemporânea brasileira estarão expostas no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, a partir de 28 de maio, ao lado de releituras propostas pelo próprio artista. A cópia e a reprodução viriam a se consagrar como seus grandes temas, até culminar nas atuais instalações produzidas com objetos produzidos em série.


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