A discussão política que se abriu nos últimos dias sobre as classes sociais brasileiras tem a ver claramente com o tipo de eleitor que cada partido quer conquistar. E com ele vencer nas urnas. O tucano Fernando Henrique verbalizou interesse no estrato mais alto da pirâmide – uma vez que, segundo ele, a camada menos abastada da população estaria irremediavelmente seduzida pelas hostes petistas. Seu opositor tradicional, Lula, contrapôs dizendo que ele quer “esquecer o povão”. A situação é, na verdade, mais complexa. O brasileiro de todas as faixas alcançou novo status com a melhoria de poder aquisitivo e da capacidade de consumo. A essa altura do campeonato não há mais dúvida para ninguém de que o País mudou. Economicamente e socialmente. As classes C, D e E viraram forças motrizes da arrancada. Ampliaram o leque dos brasileiros classifi cados como classe média. Isso signifi ca que do ponto de vista de aspirações e conhecimento da realidade estão todos muitos parecidos. A maioria sonha com o carro novo ou a casa própria, embalada pelo fenômeno dos financiamentos a perder de vista. Boa parte já experimentou a inclusão educacional. Faz questão de ter o fi lho na escola. Apresenta melhor formação e noção da realidade. Mais criteriosos e mais esclarecidos, esses brasileiros estão sabendo discernir como nunca sobre o que é melhor para o País. Algo que, curiosamente, pode ser bem complicado para futuros candidatos. Até há pouco tempo, vale lembrar, a parcela majoritária dos cidadãos estava alijada da economia. Vivia desinformada e convertiase facilmente em massa de manobra, usada no momento da escolha de seus representantes. A prática do voto de cabresto em currais eleitorais virou uma constante. O quadro tende a mudar daqui para a frente. Na nova plataforma eleitoral, o que fará diferença será a credibilidade das propostas. A presidente Dilma corre atrás de um novo programa, a ser anunciado nos próximos dias, de combate à miséria. Se for apenas mais uma promessa vaga, de efi cácia discutível, corre o risco de frustrar milhões de eleitores do seu target. Do mesmo modo, caso a oposição não traga um plano concreto para o público que almeja angariar entre os mais abastados, pode colocar por água abaixo seu sonho de retomada do poder. O eleitor brasileiro mudou para melhor – em qualquer classe – e talvez  muitos políticos não tenham percebido isso.