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Codornas podem ser assadas em bexiga de porco com molho madeira e também fazem perfeita combinação com trufas. Só não podem, de jeito nenhum, ser cozidas demais. O discurso, que poderia ser proferido por qualquer chef do mundo, surpreende ao sair da boca de Catherine Zeta-Jones – e numa comédia romântica. Sem reservas (estréia nacional no dia 10), no qual a atriz interpreta a rígida chef Kate Armstrong, é a mais recente prova de que a profissão virou moda no cinema, na televisão e até mesmo nas artes.

“Há um fenômeno internacional dos chefs – eles são como astros de cinema agora. Estão em capas de revistas, dão autógrafos, e há restaurantes que você precisa reservar com anos de antecedência”, diz Catherine, que teve de treinar bastante para não decepcionar no papel de cozinheira. A mulher de Michael Douglas admite que mal sabe fritar um ovo. Tanto ela quanto Aaron Eckhart, que vive Nick, o animado sous chef do fictício restaurante 22 Bleecker e interesse romântico de Kate, tiveram duas semanas de aula com Michael White, do Fiamma de Nova York. Como a idéia era de que o cenário fosse os bastidores de um restaurante refinado, eles não só tinham que saber refogar e cortar como também se movimentar numa cozinha agitada. Um cardápio de 25 itens foi preparado para o longa, incluindo terrina de aspargos, pato com purê de abóbora acompanhado de abobrinha e laranja ao molho de cogumelos selvagens e a tal codorna ao molho de trufas que é a especialidade da protagonista.

Sem reservas, dirigido por Scott Hicks e baseado no alemão Simplesmente Martha, não é o primeiro longa da temporada a tratar do mundo da alta gastronomia. Ratatouille, animação em cartaz no Brasil, também expõe o funcionamento desse universo – as divisões de tarefas na cozinha, a organização dos pedidos, a importância da qualidade dos ingredientes e o papel da crítica. Verdade que de maneira mais anárquica, já que o protagonista, Remy, é um rato com o sonho de se tornar um grande chef.

Sem reservas e Ratatouille não devem ficar sós por muito tempo. Will Smith quer produzir um longa baseado em Cooked, de Jeff Henderson, extraficante que se tornou cozinheiro. E Gordon Ramsay vendeu para o cinema os direitos de sua autobiografia Humble pie, com sua trajetória de quase jogador de futebol a mestre-cuca. O mal-humorado Ramsay é estrela de outro gênero que coloca os cozinheiros em evidência: os reality shows. À frente do Hell’s kitchen, cujas duas primeiras temporadas foram ao ar no Brasil pelo GNT, ele fez sucesso ao destratar muitos aspirantes. “Para mim é bem melhor repreender o cozinheiro e dizer: ‘Acorde e faça direito ou você vai ficar fritando hambúrguer para ganhar a vida’. Dá para ser educado num cenário desses?”, defende- se. O mesmo canal por assinatura apresenta atualmente a versão inglesa de Kitchen’s nightmares, em que Ramsay visita restaurantes e impõe mudanças para que eles sejam mais rentáveis. Bem mais light é Tom Colicchio, que comanda o Top chef, outro reality show que pretende descobrir novos cozinheiros e que teve seu primeiro ano exibido pelo Sony – nos EUA, está no terceiro.

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Mas a televisão também aposta nos chefes de cozinha simpáticos. Com seus cabelos espetados, Jamie Oliver virou celebridade ao fazer qualquer prato parecer moleza em séries como Em casa com Jamie Oliver e Jamie Oliver no ponto!, que acabam de chegar ao GNT. Outro boa praça é Anthony Bourdain, de Sem reservas, que estreou a terceira temporada no Discovery Travel & Living. No programa, ele visita com humor vários lugares do mundo – inclusive São Paulo –, sempre em busca de experiências gastronômicas curiosas. A moda é tão forte que até a tevê brasileira aderiu. Há dois altos cozinheiros em ação em novelas da Rede Globo. Heitor (Daniel Dantas) deu adeus a uma vida monótona e infeliz como executivo para se dedicar às panelas no Frigideira Carioca, em Paraíso tropical. Já Pedro (Sidney Sampaio), que faz a linha nervosinho em Sete pecados, abre seu sofisticado restaurante enquanto tenta recuperar a ex-namorada ajudando-a em seus golpes baixos. E nem as artes plásticas escaparam da nova onda. Uma das grandes atrações da Documenta de Kassel, a exposição de arte mais importante do mundo, que acontece a cada cinco anos na cidade alemã, são os pratos do badalado espanhol Ferran Adrià, conhecido por suas alquimias na cozinha. Catherine Zeta-Jones está certa: os chefs, hoje, são mesmo como estrelas de cinema.